O homem que é considerado um dos pais do plano real afirma que cortar de juros é uma decisão que não depende de “alguém de bom coração”. Gustavo Franco falou sobre o tema no momento em que o Banco Central sofre pressão do governo para reduzir a taxa Selic. “Câmbio e juros não são variáveis que o Banco Central põe onde quer. Já fui presidente do Banco Central, se fosse assim, claro que eu já teria feito. Eu e qualquer um que passou por lá”. A resposta em tom de desabafo foi dada à jornalista Paula Moraes, apresentadora do programa Mercado & Beyond, da BM&C News. O programa vai ao ar nesta segunda, 22, às 21 horas.
O ex-presidente do Banco Central ainda lembra que a queda de juros tem a ver com fundamentos que atualmente não estão presentes na gestão fiscal brasileira: “Tem a ver com governo muito grande, dívida pública muito grande e contas que não fecham. Além do endividado (Brasil) dever muito, ele se apresenta toda hora ao mercado para tomar mais dinheiro. Enquanto for assim, não vai cair o juro”, analisa Franco.
Grau de investimento
O economista Gustavo Franco ocupou a presidência do Banco Central entre 1997 e 1999. Era o início do plano real e nesse período, o Brasil fez um acordo com o Fundo Monetário Internacional. Passou a registrar superávit primário e em 2008 o país conquistou o chamado grau de investimento, condição que demonstra boa saúde financeira. Mas, em 2015 esse status foi perdido.
Franco acredita que desde então houve pouco empenho em retomar essa avaliação: “O grau de investimento que numa certa altura era falado em Brasília, agora foi esquecido”. O ex-presidente do BC acredita que o país poderia ter o mesmo grau de risco soberano que o Chile, o melhor país da América Latina nesse ranking. “Isso facilita tantas coisas. Basta perguntar pra todo mundo que lida com o crédito, a diferença que faz. Como é que Brasília não descobriu isso antes né? Esse é o melhor plano que tem para os próximos anos. O juro cai, fica melhor para todo mundo”, analisa.
Acionista “machadiano”
Gustavo Franco, de 68 anos, é professor do Departamento de Economia da PUC-Rio. Em 2000 fundou a Rio Bravo Investimentos, uma empresa de serviços financeiros, gestão de investimentos e securitizações, sediada em São Paulo.
Além da área financeira, Gustavo Franco também se identifica com a literatura. É autor de diversos livros que mostram a relação de escritores com a economia.
Durante a entrevista ao Mercado & Beyond ele falou sobre um personagem recorrente na obra de Machado de Assis: “O personagem é o acionista rentista. Ele só quer saber de dividendo, inclusive tem uma passagem que ele diz ‘não quero saber dos divisores, quero saber dos dividendos”. Na opinião de Franco, o autor conseguiu capturar a ideia de que o brasileiro não gosta do mundo do mercado de capitais, das empresas, da governança, apenas dos dividendos. “A descoberta desse personagem é um pouco remexer pela memória do Brasil e achar no porão um retrato nosso”, conclui Franco.
Mercado & Beyond
O Mercado & Beyond é um programa de entrevistas com uma linguagem “soft” e informal. Semanalmente Paula Moraes recebe convidados que são grandes especialistas que trazem seus pontos de vista em relação aos negócios, empreendedorismo e novas tecnologias. O programa também explora bastidores, cases e histórias do mercado financeiro. É exibido toda segunda, às 21h.
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