Foram poucos milímetros entre o fatal e o raspão. O tiro que atraiu as atenções do mundo todo na noite do último sábado também pode alterar o rumo da eleição presidencial americana. Até então o pleito parecia equilibrado.
Agora muitos analistas passam a ver que Donald Trump vai conseguir capitalizar mais apoio diante do ataque. Logo após o atentado as apostas dos mercados sobre uma possível volta do ex-presidente à Casa Branca subiram bastante. “Com o atentado, a probabilidade de eleição do Trump aumenta muito.
As fotos, a forma como a coisa aconteceu, mostra um vigor físico, um vigor mental do Donald Trump muito superior ao que a gente pode falar do Biden”, aponta o economista VanDyck Silveira que acredita que Trump conseguiu passar uma imagem que agradou a maioria dos eleitores no momento em que se levantou do chão, ferido e pedindo “lutem, lutem, lutem”.
Já o professor de Relações Internacionais Marcus Vinícius de Freitas pondera que cada eleição tem suas próprias características e não há ligação automática entre o atentado e a vitória nas urnas. “Todo mundo tá falando, ah, o Trump é eleito! Querendo atribuir ao Trump a mesma questão do Bolsonaro. A diferença é que o Bolsonaro era um candidato conhecido, mas não era tão conhecido… então a gente tá comparando cenários diferentes”, analisa Freitas.
Repercussões no mercado
As bolsas americanas abriram em alta nesta segunda-feira, pós atentado. Analistas passam a projetar cenários que gerem pressão inflacionária e juros altos por mais tempo. O estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves ainda é prematuro precificar uma vitória de Trump diante do tempo que falta para as eleições nos EUA. “Esse impacto é mais de curto prazo em relação à expectativa daquilo que realmente pode vir acontecer, porque depois a realidade pode ser diferente. O fato de Trump ter feito algo em seu primeiro governo, não quer dizer que ele fará o mesmo em uma eventual segunda gestão”, avalia.
Quanto ao comércio global, o que preocupa é uma nova elevação de tarifas a produtos estrangeiros para combater o déficit comercial dos EUA, como Trump já fez em seu primeiro governo. “A questão das tarifas pesa especialmente para a China, mas não somente e pode respingar no Brasil, no aço ou algum outro mercado que o país concorra com os EUA”, alerta Castro Alves.
Sobre esse tema, o economista Roberto Dumas lembra que Trump diz que vai tributar em 61% tudo que vier de China e que a China pode usar o agro do Brasil para contra atacar o protecionismo de Trump. “Os ativos chineses devem apanhar. Por outro lado, nossos ativos que dependem da China devem ter uma boa performance”, analisa Dumas.
Crescimento natural
Para Freitas, após a convenção do partido republicano há uma tendência natural de crescimento da candidatura de Donald Trump: “Toda a convenção sempre dá um boost para o candidato no processo eleitoral, então ele deve dar uma crescida. Agora, a questão é se isso é sustentável. Se ele mantiver e alcançar uma distância razoável, aí o Partido Democrata vai ter que pensar o seguinte, vale a pena nós, que já estamos prestes a perder, sacrificarmos um outro candidato neste processo?”.