Não, não sou eu que afirmo isso. É assim que o professor Aswath Damodaran, PhD costuma começar suas palestras ou aulas sobre avaliações de empresas.
Mas ele não é reconhecido como “o Papa do valuation” à toa.
Em abril, Aswath Damodaran estará de volta ao Brasil para a 11ª Conferência Anual da CFA Society Brazil, desta vez celebrando os 20 anos da Society. Sua última vinda foi para a 7ª Conferência da CFA, lá em 2017, e quais insights guardo até hoje
O que ele vai palestrar dessa vez? Cenas para o próximo artigo.
O que ele falou e é válido até hoje? Seis anos e incontáveis valuations depois, sim! E você confere em 3 minutos de leitura abaixo.

Valuation: muita teoria, prática, erros e acertos
Escrevi em uma coluna anterior (dividida em parte 1 e parte 2) sobre como meus anos como professor e advisor me fizeram enxergar o valuation como um craft — ou seja, uma habilidade que exige técnica, tempo de estudos, disciplina e muitas tentativas com erros e acertos até chegar aos números, que nunca serão perfeitos.
Afinal, o valuation não é uma ciência exata, e é nessa tecla que Damodaran insistiu em bater. Na época da palestra, o professor trabalhava na área há quase três décadas e até brincou com o público dizendo que estava começando a aprender e ficar bom no negócio.
Nada vende mais que uma boa história
Muitos de nós têm o costume de pensar o valuation apenas como colunas e linhas de planilhas preenchidas com números. Damodaran nos convenceu de que não existe um bom valuation sem uma boa história e uma narrativa construída que nos faça entender os negócios das empresas para além dos seus números. Segundo ele, histórias fazem mais para um bom valuation que os números.
Na palestra, ele usou o Uber como exemplo de como um storytelling convincente pode agregar bilhões de dólares ao valor de uma empresa, desde que a narrativa jogue junto com a realidade e a sustentabilidade de cenários futuros. Ou seja, nada de ficção e argumentos insustentáveis.
Contar histórias e apresentar números
Estamos acostumados a nos dividir entre aqueles que são dos números ou das histórias. Aqui no Brasil, somos “de Exatas” ou “de Humanas”, forçados a cometer esse erro já na escola.
Para Damodaran, não é possível chegar a um valuation ideal sem uma boa história e sem números que comprovem que a história é plausível ou provável. No mercado financeiro, vemos uma predominância do que o professor chama de “number crunchers” — e aqui podemos chamar de planilheiros. Mas os “storytellers” — os contadores de histórias — são fundamentais para trazer as narrativas e apresentar o valor das empresas para além dos números.
A conclusão que o professor nos trouxe é que não há como fazer um bom valuation apenas analisando números em planilhas, assim como não é possível fazer um valuation que conte boas histórias, mas não convença nos números.
O recado dado é: quando ouvir boas histórias, foque nas planilhas. Quando ver bons números, lembre-se de se aprofundar melhor na história da companhia.
Os 3 problemas para quem foca só em planilhas
Lembro também quando o professor trouxe os maiores vieses que acabam refletindo nas avaliações feitas pelos planilheiros:
- O valor de uma empresa não está escrito em pedra: esqueça a precisão e não se apegue a um número exato;
- Você está, sim, enviesado: a ilusão de que não temos vieses por estarmos focados no que os números dizem já é um viés por si só;
- Incertezas e falta de controle fazem parte do negócio: não temos o controle de tudo e não gostamos de lidar com as incertezas, mas temos a falsa sensação que quantificar o negócio nos dá esse domínio.
Como acertar um valuation?
Mas afinal, como fazer uma avaliação de uma empresa mais precisa possível? Guarde elas:
- Crie uma narrativa para a empresa;
- Lembre do Cone da Plausibilidade, do filósofo Charles Taylor, para projetar cenários futuros e certificar se a história é possível, plausível e provável;
- Transforme a história em valor para a companhia;
- Transforme esses valores em um valuation;
- Seja flexível e não finalize o processo sem ouvir opiniões de colegas e outros investidores.
Simples assim.
O que esperar do encontro com Damodaran em abril?
Para o professor, investidores e empresários norte-americanos e europeus têm muito o que aprender com empreendedores do Brasil para lidar com os altos e baixos da inflação.
O Brasil é sempre citado nos exemplos do papa do valuation, talvez pela nossa relevância como país emergente, ou hospitalidade nas visitas anteriores do professor, ou quem sabe somente por que o professor pode gostar de um samba (menos provável, mas aumenta o ‘valuation’ da visita).
Ouvindo suas análises e recomendações, realmente é possível sair do encontro e acreditar que um valuation é mesmo algo simples, mas nossos vieses podem deixar o processo complicado. O que ele vai palestrar dessa vez? Cenas para o próximo artigo.
*Coluna escrita por Alexandre Cracovsky, CFA, tem anos de experiência em M&A. É Vice-presidente na ADVISIA Investimentos, onde assessora empresas em transações tanto no sell-side quanto no buy-side. Atuou na área de M&A e Post Merge Integration de um grande conglomerado nacional. Formação em Engenharia Civil, CFA® Charterholder, PhD Candidate em Administração de Empresas na FGV-EAESP e Professor na Link School of Business.
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