Nos últimos meses, os holofotes têm se voltado para a economia da Argentina, especialmente após a mega desvalorização cambial anunciada em meados de dezembro último. O governo do presidente Javier Milei, que recentemente alcançou a marca de 100 dias de gestão, tem empreendido esforços para implementar uma agenda ambiciosa visando resgatar a segunda maior economia da América do Sul de uma crise persistente. As repercussões dessas medidas têm sido amplamente sentidas, influenciando diretamente os resultados financeiros das empresas brasileiras no quarto trimestre de 2023 (4T23).
Quais os Efeitos da Política Econômica Argentina nas Empresas Brasileiras?
Este cenário complexo tem levado a uma série de desdobramentos, afetando principalmente os setores de consumo e autopeças, devido à sua significativa exposição à Argentina. Em contrapartida, houve também notícias positivas, como o caso do Banco do Brasil (BBAS3) que, impulsionado pelos resultados do Banco Patagonia, reportou lucro líquido ajustado de R$ 9,4 bilhões no 4T23, alcançando ganhos recordes de R$ 36,5 bilhões ao longo do ano.
No entanto, nem todas as empresas tiveram a mesma sorte. A Ambev (ABEV3), por exemplo, viu seu resultado no 4T23 afetado negativamente pela inflação na Argentina, com sua divisão LAS (América Latina Sul) apresentando um Ebitda 34% inferior às expectativas do mercado. Esse cenário também reverberou na Natura&Co (NTCO3), que reportou um prejuízo líquido ajustado de R$ 966 milhões no mesmo período, pressionado pela desvalorização do peso argentino.
Setor de Serviços Digitais e Logística: Um Panorama Misto
A Infracommerce (IFCM3), mesmo com uma redução de 6,2% no lucro líquido do 4T23 em relação ao ano anterior, chamou a atenção pela solidez de suas margens e forte controle de investimentos, mantendo o foco em um fluxo de caixa positivo. Por outro lado, o setor de transporte e logística, representado por empresas como Marcopolo (POMO4) e JSL (JSLG3), apesar de expandir seu lucro em comparação com o trimestre anterior, enfrentou desafios significativos decorrentes da volatilidade cambial argentina.
A siderúrgica Gerdau (GGBR4) não foi exceção, com o Ebitda da América do Sul apresentando uma queda impressionante de 73% na comparação trimestral, evidenciando o impacto da situação econômica argentina sobre suas operações. Esse cenário de incertezas destaca a influência direta das políticas econômicas argentinas sobre as empresas brasileiras, ressaltando a interdependência econômica entre os dois países.
Projeções e Expectativas para o Futuro
Embora muitos dos impactos observados possam ser considerados não recorrentes, o mercado permanece atento às futuras ações do governo Milei e seu potencial efeito sobre as empresas que operam na Argentina. Os próximos meses serão cruciais para avaliar se a agenda de reformas proposta conseguirá estabilizar a economia argentina e, por conseguinte, amenizar os efeitos adversos nas empresas brasileiras com operações no país vizinho.
Concluindo, enquanto algumas empresas brasileiras demonstram resiliência e adaptabilidade diante dos desafios econômicos enfrentados pela Argentina, outras ainda buscam estratégias para mitigar os impactos negativos. A evolução da situação econômica argentina continuará a ser um importante ponto de observação para investidores e analistas nos meses vindouros.