Muitos articulistas passaram o final de semana tentando explicar a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, captada por três pesquisas diferentes. Não é um tombo, mas percebe-se uma tendência suave e consistente desde o ano passado. Isso ocorre em um momento no qual a economia dá sinais flagrantes de recuperação. Exemplos de boas notícias não faltam: a arrecadação federal bateu recorde no início do ano, a indústria automobilística fará um investimento recorde no país e taxa de desemprego está em queda. Ontem, a manchete da Folha de S. Paulo ia nessa mesma toada: “Renda do trabalho registra maior alta desde o Plano Real”.
Se o desempenho da economia é um dos maiores cabos eleitorais de um governo, por que então a popularidade de Lula está em queda?
Na última sexta-feira, fiz um comentário sobre a ascensão de Donald Trump nas enquetes eleitorais americanas, apesar da uma boa performance da economia sob o governo de Joe Biden. Naquele caso específico, a Casa Branca perde aprovação em função de motivos como o etarismo e o desgaste dos democratas, que abraçaram a cultura “woke” (entre outras razões).
Lula passa por uma fase parecida, já que a economia vai bem, mas sua popularidade patina. Mas qual seria a principal explicação que está por trás desse fenômeno? Há um grande motivo, que é a origem de todos os problemas enfrentados pelo governo do PT: a incapacidade de Lula em ficar quieto ou ser cuidadoso com o uso das palavras.
Lula foi eleito em parte pela rejeição a Jair Bolsonaro e seu estilo deixa-que-eu-chuto. Os eleitores de centro se cansaram das bravatas, das tiradas politicamente incorretas ou do discurso fortemente centrado em religião e referências à importância das Forças Armadas. O projeto econômico de Paulo Guedes, uma das âncoras daquele governo, foi esmaecido pela belicosidade do presidente e por algumas medidas populistas, como a turbinada geral que foi dada em programas sociais, como o Bolsa-Família.
Lula surgiu com uma proposta de frente ampla, amealhando apoios de centristas e moderados. Investiu em um discurso de conciliação e disse várias vezes que o Brasil precisava ser pacificado, já que o cenário estava totalmente polarizado.
Uma vez empossado, porém, o presidente passou a defender explicitamente uma agenda de esquerda, que dominou o ministério. O Lula que surgiu em 2023 foi bem diferente daquele de 2003 e frustrou um grupo significativo de eleitores.
Com a verve esquerdista, Lula passou a se comportar como um elefante em loja de cristais, fazendo um estrago danado. Um exemplo claro foi a declaração sobre a guerra entre Hamas e Israel, que dá pano para a manga até hoje e serviu para bombar o evento organizado por Bolsonaro e Silas Malafaia na avenida Paulista, em 25 de fevereiro.
Antes disso, entretanto, o presidente já havia produzido pérolas que atacavam empresários em geral, além de mirar diretamente naqueles que atuam no agronegócio, chamando-os de “fascistas e negacionistas”. Também defendeu o indefensável, dizendo que a ditadura venezuelana era uma democracia.
Como Bolsonaro, Lula não tem o hábito da leitura. E se informa através daquilo que é dito a ele. No primeiro mandato, contudo, havia um número razoável de conselheiros moderados ao seu redor. Hoje, esse grupo é diminuto e tem como principal representante o ministro Fernando Haddad, cujas opiniões são mais restritas ao campo da economia. Ao ser pilhado por interlocutores mais radicais, Lula repete o comportamento de seu antecessor: joga para a torcida, só que com o sinal invertido.
O resultado dessa brincadeira é um desgaste paulatino em relação ao centro. Não é à toa que Lula vive lembrando a existência de Bolsonaro o tempo todo. O problema dessa argumentação é que Bolsonaro estará inelegível nas próximas eleições presidenciais. Se houver um representante que consiga entusiasmar a Direita e o Centro, como o governador Tarcísio de Freitas, Lula terá sérias dificuldades de reeleição. Ele terá 81 anos em 2026. Caso perca essa eleição, dificilmente terá uma oportunidade para concorrer novamente em 2030. Por isso mesmo, o presidente deveria começar a entender que, sem os eleitores de Centro, não irá a lugar nenhum e precisa deles para conseguir a vitória daqui a dois anos e meio.
*Coluna escrita por Aluizio Falcão Filho jornalista, articulista e publisher do portal Money Report, Aluizio Falcão Filho foi diretor de redação da revista Época e diretor editorial da Editora Globo, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Forbes e a vice-presidência no Brasil da agência de publicidade Grey Worldwide;
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