Esta semana foi pródiga em boas notícias para o governo federal. A taxa de desemprego média em 2023 ficou em 7,8%, a menor desde 2014 e 1,8 ponto percentual abaixo do resultado de 2022. As reservas cambiais, depois de um período em queda, voltaram a subir (9,34% de alta). O Fundo Monetário Internacional revisou a expectativa de crescimento do PIB brasileiro para 2024, de 1,5% para 1,7%. Por fim, os juros caíram a 11,25 % ao ano, o menor nível dos últimos dois anos.
Se tivemos notícias tão promissoras, por que muitos empresários ainda estão se queixando da política econômica? Outra questão: alguns analistas da Esquerda estão espalhando a tese de que o empresariado brasileiro é contraditório ao defender a desoneração da folha de pagamentos e, ao mesmo tempo, pressionar por gastos públicos menores. Há, de fato, contradição nesse comportamento?
Vamos por partes. O empresariado está olhando o meio copo vazio porque se preocupa claramente com o controle do déficit público. No ano passado, tivemos um rombo de R$ 231 bilhões nas contas públicas – o segundo da história, perdendo apenas para o ano da pandemia. Uma boa parte disso, é verdade, refere-se a R$ 93 bilhões pagos em precatórios, uma despesa que foi rolada do governo de Jair Bolsonaro para a administração seguinte. Mesmo assim, a conta que sobra, superior a R$ 130 bilhões, é superlativa.
Além disso, o governo mostra um apetite gigantesco em arrecadar, tentando buscar mais recursos da iniciativa privada de forma criativa e assustadora. Em um país no qual as empresas são pressionadas com uma curva fiscal injusta, esse é o pior dos mundos.
E a tal contradição levantada pela Esquerda? Esse raciocínio parte de um pressuposto errado, o de que o Estado tem um tamanho razoável. Ocorre que a estrutura estatal é gigantesca e pantagruélica – e, para piorar, gasta mal os recursos que sorve da sociedade brasileira. Se tivéssemos um Estado menor, o apetite por impostos seria menor e, assim, a reoneração nem se transformaria em uma questão a discutir.
Some-se tudo isso a uma visão estatista da economia, de um Estado investidor, provedor e controlador e o cenário fica ainda mais complicado.
Quer um exemplo? A ideia do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, de reviver a indústria naval no Brasil. “Precisamos fazer navio. Já fizemos. Temos tecnologia e também temos erros cometidos para aprender e corrigir”, disse ele recentemente. “Como um país que é um dos três no mundo que constroem e certificam avião não vai fazer, não pode fazer ou não deve fazer navio?”.
Em primeiro lugar, não há como comparar aviões com navios. São mercados diferentes, com ciclos diferentes e clientes diferentes. Mas, ainda assim, fracassamos fragorosamente neste setor, principalmente por falta de escala. Não é a primeira vez que um governo petista fala nisso: essa foi uma das bandeiras do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Entre 2007 e 2016, cerca de R$ 45 bilhões foram injetados pelo BNDES no segmento através do Fundo de Marinha Mercante. À toa.
Por fim, lembremos do que aconteceu no governo Dilma Rousseff, quando o dinheiro público foi utilizado para estimular artificialmente a economia durante o primeiro mandato. O ano de 2014 terminou com uma taxa de desemprego de 7,0%. Na condução da economia, é preciso estar atento o tempo todo para as armadilhas que estão escondidas nos números positivos.
Por fim, uma pergunta: se estamos vendo resultados positivos no panorama atual, como estaria o Brasil se o governo tivesse iniciativas a favor do livre mercado?
É impressionante a força e a resiliência da economia brasileira.
*Coluna escrita por Aluizio Falcão Filho jornalista, articulista e publisher do portal Money Report, Aluizio Falcão Filho foi diretor de redação da revista Época e diretor editorial da Editora Globo, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Forbes e a vice-presidência no Brasil da agência de publicidade Grey Worldwide;
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