O ex-presidente Jair Bolsonaro promoveu uma “live” anteontem, juntamente com seus filhos, e a audiência passou dos dois milhões de espectadores na segunda-feira. Em contraponto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não retomou suas “lives” semanais com o jornalista Marcos Uchôa. O motivo, segundo línguas maldosas, seria o baixo número de visualizações.
Mas Lula foi eleito e Bolsonaro não. Como se explica isso?
Bolsonaristas dizem que isso é reflexo da manipulação no resultado das urnas eletrônicas. Já os lulistas afirmam que a audiência de Bolsonaro é resultado do uso coordenado de robôs cibernéticos, que bombam artificialmente as estatísticas do YouTube.
Não deixa de ser interessante ver os argumentos gerados pela polarização política. Ou seja, os hackers que conseguem invadir a estrutura digital do Tribunal Superior Eleitoral são todos de esquerda. Já aqueles que utilizam exércitos de “bots” para bombar a audiência de uma “live” são sempre de direita.
Os analistas de mídia diriam que não é possível analisar um programa na internet semanal com uma única aparição, realizada após muito tempo de recolhimento (a última vez que Bolsonaro havia aparecido ao vivo no YouTube tinha sido em 30 de dezembro de 2022). Mas, apenas para registrar, a “live” mais popular de Lula angariou um total 191 000 “viewers”; a de Bolsonaro chegou a ater 440 000 espectadores simultâneos e atingiu uma audiência total (contando quem acessou o arquivo após o encerramento da transmissão) superior a 2 milhões de pessoas.
Os números digitais de Lula e de Bolsonaro mostram uma diferença significativa nos perfis dos eleitores dos dois políticos. Bolsonaro parece ter um grupo de admiradores fiéis muito mais do que Lula.
No Instagram, por exemplo, o presidente possui 13,1 milhões de seguidores, contra 25,4 milhões de seu antecessor. No Facebook, Lula conta com uma comunidade virtual de 5,4 milhões de indivíduos, contra 15 milhões de Bolsonaro. Por fim, no YouTube, há 1,37 milhão de inscritos no canal do atual mandatário e 6,54 milhões no do ex.
São estatísticas que mostram um público bolsonarista muito mais antenado com o mundo digital que o petista. Isso não necessariamente vai ser traduzido em votos durante as eleições, mas é um ponto de partida para todos os políticos. Pelo menos nesse quesito, Bolsonaro está muito à frente de Lula.
Mas há similaridades na estratégia de comunicação entre situação e oposição. Lula e Bolsonaro aproveitam quase todas as oportunidades de visibilidade midiática para se cutucarem. Só que o presidente, por ter mandato, acaba fazendo isso mais em eventos, palanques e entrevistas.
Para que a militância de Lula continue mobilizada, os inimigos da Direita precisam ser lembrados com frequência. Com Bolsonaro, ocorre a mesma coisa, só que com o sinal trocado: ele critica Lula e a Esquerda sempre que tem oportunidade e o objetivo é manter os militantes com sangue nos olhos.
O ex-presidente está inelegível até 2030, mas conta com um capital político enorme e é cortejado por centenas de candidatos a prefeito neste ano. Seu apoio pode ser fundamental para determinados pleitos. Mas esses candidatos não devem esperar moderação. Pelo que se pôde ver na “live” de domingo, o Bolsonaro velho de guerra está a postos para botar fogo no parquinho em 2024.
Trata-se, definitivamente, um estilo que eleva a audiência, pois une devotos de plantão e inimigos figadais – estes últimos querem ouvir suas palavras para criticá-lo ou reverberar suas opiniões contrárias nas redes sociais. É como um telespectador que vê um jogo de futebol apenas para torcer contra um dos times, uma prática comum aqui no Brasil.
No país do futebol, a polarização é quem dita as cartas no gramado da política e das redes sociais.
*Coluna escrita por Aluizio Falcão Filho jornalista, articulista e publisher do portal Money Report, Aluizio Falcão Filho foi diretor de redação da revista Época e diretor editorial da Editora Globo, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Forbes e a vice-presidência no Brasil da agência de publicidade Grey Worldwide;
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