O Ibovespa fechou no vermelho nesta terça-feira (2), com investidores acompanhando os preços do petróleo com acirramento de conflitos no Mar Vermelho.
Segundo análise de Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, apesar de termos peculiaridades aqui no Brasil, existe um movimento hoje de aversão a risco no mundo. Depois de uma alta muito forte que a gente teve no mês de dezembro, principalmente, fica claro na minha visão que os mercados passam por um ajuste à espera dos próximos dados que vão sair na semana nos Estados Unidos.
É normal também depois de uma alta mais forte no final de ano, a gente ter algum ajuste agora, um movimento de aversão a risco, e dá pra notar claramente o reflexo disso no dólar.
Quando a gente olha os treasures também tem essa mesma questão envolvida. A gente tem essa mesma aversão a risco que a gente vê que faz o dólar subir e também acaba afetando um pouco os treasures americanos que também estão com alta. Dá pra ver também o VIX que está em alta. Já chegou a ficar com 11% de alta durante o dia, o que é fruto também dessa percepção de aversão a risco que a gente está nesse primeiro pregão do ano, depois de uma alta mais forte a espera de próximos dados que devem sair durante a semana, principalmente nos Estados Unidos.
No Brasil dá para ver que o setor financeiro está puxando mais forte a Bolsa para baixo com papéis de Bradesco, Itaú, BB em queda. Na realidade, a Bolsa inteira está caindo.
Tirando ali Vale e Petrobras, a maioria dos outros papéis estão no terreno negativo. Então o setor financeiro puxa mais ali, com bancos caindo mais de 1,5%. Então é uma queda mais pesada. Mas acho que vale destacar que a Bolsa inteira está caindo com exceção dessa parte de commodities. E não vi nada específico do setor financeiro de novidade para puxar uma queda mais pesada. Acho que é mais um ajuste mesmo ali, depois de uma alta forte no mês passado. E um setor que também tem uma sensibilidade a curva de juros.
O pregão tem baixo volume financeiro hoje. Quando a gente olha a curva de juros, ela está toda subindo ali, praticamente todos os vértices subindo. Eu acho que também é reflexo dessa aversão a risco por conta dos dados que devem vir la fora.
E aqui no Brasil tem sim um certo receio quanto à questão fiscal. Se, de fato, vamos manter uma meta zero para esse ano. Mas acho que é normal depois também do movimento forte de alta que a gente teve, a gente ter algum tipo de correção, que é o que está acontecendo agora.
Por fim, em relação ao cumprimento da meta, o mercado tem uma dificuldade, desde o ano passado em acreditar que o governo vai cumprir a meta zero. Apesar da última declaração do Haddad ter reforçado a busca pelo deficit zero e também estar buscando medidas para tentar fechar o orçamento, tem a pauta de exoneração para rolar, teve aprovação das offshores no ano passado. Então, a gente vê que o governo tem buscado, através do Haddad medidas para tentar fechar as contas.
Por todo o histórico do Brasil, por todas as condições políticas que a gente tem no Brasil também, o mercado vê com um certo ceticismo ali que o governo não vai conseguir de fato fechar o déficit zero. O fato de se buscar é um bom sinal. Se tivesse mudado a meta no ano passado, teria soado muito ruim, porque teria causado a impressão de descontrole. Mas por estar se buscando ali medidas para fechar as contas, isso o mercado vê de maneira positiva e até explica, em parte, o otimismo com o Brasil.
O mercado vai ficar de olho nas próximas declarações, principalmente do presidente e do ministro, ou de alguma liderança do PT em específico, que pode fazer preço no mercado, principalmente durante esse mês de janeiro, até porque Congresso e Senado estão de recesso até fevereiro, então o que pode acontecer durante janeiro, principalmente, seriam declarações.
Se a meta for descumprida, é muito importante observar a comunicação, como vai ser feita. Se ela vai ser feita de uma maneira buscando explicar com seriedade que houve, de fato, uma tentativa para fazer esse cumprimento e que acabou não conseguindo, ou se vai ser feita de uma maneira um pouco menos polida talvez, o que poderia pesar bem no mercado. Claro que não cumprir a meta pesa de qualquer jeito, mas a comunicação é importante para mostrar o grau de comprometimento do governo em relação ao cumprimento da meta. E claro, o tamanho do que não seria cumprido também afeta. Mas, reforçando, se der sinal que não vai cumprir é notícia ruim de toda forma que pode pesar no mercado também.
Confira abaixo os dados de fechamento do Ibovespa e demais índices
- Ibovespa: 132.696,63 (-1,11%)
- S&P 500: 4.742,83 (-0,57%)
- Nasdaq: 14.765,94 (-1,63%)
- Dow Jones: 37.715,04 (+0,07%)
- Dólar: R$ 4,91 (+1,29%)
- Euro: R$ 5,38 (+0,19%)