Ser controlador de uma empresa de alta tecnologia pode reservar surpresas (desagradáveis) diante das características da operação. Foi o que demonstrou o episódio envolvendo Sam Altman e o conselho da OpenAI, dona do ChatGPT. Em uma manobra interna, o executivo foi demitido da empresa que fundou na sexta-feira (17), sem ao menos ser deslocado para a posição institucional de integrante do conselho.
Não fosse o que ocorreu depois, seria só mais uma clássica puxada corporativa de tapete. Sem deixar claro por qual razão (há suspeitas), o conselho alegou que Altman não seria honesto o suficiente e que a maioria havia tinham perdido a confiança nele. Um golpe que resultou na queda e subsequente retorno do CEO nesta quarta-feira (22). Já quem o chutou para fora teve que limpar as gavetas.
Um dia depois de ser demitido, no sábado (18), Altman foi sondado pela Microsoft, aceitando o convite no dia seguinte para tocar uma nova equipe de pesquisa em inteligência artificial (IA). Foi o estouro da boiada. Com 700 funcionários, a OpenAI se viu diante da ameaça de debandada de 505 integrantes da equipe, que prefeririam seguir o líder. Detalhe: em janeiro a Microsoft se tornou a principal investidora do ChatGPT, com o aporte de US$ 10 bilhões.
Os desdobramentos comprovam que empresas de tecnologia não são necessariamente poderosas por causa dos produtos que possuem. Mais do que a marca em si, o que vale nelas é a capacidade de oferecer inovação. Logo, seu capital são as mentes remuneradas de seus profissionais. Sob o risco de perder 70% da equipe que faz o negócio ser uma operação de ponta, restou o recuo em nome do risco à sobrevivência.
Pelo X (ex-Twitter), Altman afirmou: “Adoro a OpenAI, e tudo o que fiz nos últimos dias serviu para manter esta equipe e sua missão unidas. Quando decidi ingressar na Microsoft no domingo à noite, ficou claro que esse era o melhor caminho para mim e para a equipe. Com a nova diretoria e o apoio de Satya, estou ansioso para retornar à OpenAI e desenvolver nossa forte parceria com a Microsoft”. Ele estava se referindo a Satya Nadella, CEO da Microsoft.
Na manhã desta quarta (22), a OpenAI lançou uma nota em rede social: “Alcançamos um acordo de princípio para que Sam retorne à OpenAI como CEO com um novo conselho, formado por Bret Taylor (presidente), Larry Summers e Adam D’Angelo”.
Ou seja, dessa vez os humilhados acabaram exaltados. Além de Altman, volta Greg Brockman, cofundador da empresa e presidente do conselho da qual foi demitido, mas que seria mantido em uma posição executiva. Brockman preferiu renunciar e também estava de mudança à Microsoft. Do outro lado da corda, caiu Ilya Sutskever, que deixa o conselho em caráter permanente. Cofundador e cientista-chefe da OpenAI, ele seria o articulador da deposição de Altman. Também caíram Tasha McCauley, empreendedora tecnológica, e Helen Toner, do Georgetown Center for Security and Emerging Technology.
A radical transição da empresa será coordenada por Bret Taylor, ex-CEO da Salesforce, Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, e Adam D’Angelo, CEO da Quora e membro mantido do conselho. Chamado para ser o CEO interino, o cofundador da plataforma de vídeos Twitch, Emmett Shear, nem esquentou a cadeira.
Porém, sua abortada chegada oferece algumas pistas. Shear já declarou abertamente suas preocupações com segurança no desenvolvimento de IA, o que indica que o tema seria central nos bastidores do episódio, ainda que Altman e sua turma possam ter soluções planejadas.
As lições que ficam são duas. Nunca subestimar a equipe de pesquisa. Se algo estiver indo para o caminho errado, melhor convencer os criadores de tecnologia do que apenas cortar cabeças.
*Coluna escrita por Aluizio Falcão Filho jornalista, articulista e publisher do portal Money Report, Aluizio Falcão Filho foi diretor de redação da revista Época e diretor editorial da Editora Globo, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Forbes e a vice-presidência no Brasil da agência de publicidade Grey Worldwide;
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