Relação Dólar e Petróleo.
A força do dólar corriqueiramente tende a estar associada a taxas de juro mais elevadas, algo que já comentamos várias vezes aqui no Insights Avenue, afinal, os juros representam o preço do dinheiro.
No entanto, quando se trata de moedas, a história não se resume apenas aos juros. Por exemplo, países que exportam grandes volumes de commodities, tendem a ver suas moedas nacionais se beneficiando de preços mais altos desses produtos – vale lembrar que as commodities são denominadas em dólares.
Historicamente, os Estados Unidos foram um dos maiores importadores globais de petróleo. No entanto, a partir do ano de 2019, devido a aumentos significativos na produção, o país se tornou um exportador líquido de petróleo para o mercado global. Como resultado, os EUA abandonaram a correlação negativa entre os preços do petróleo e sua moeda, passando a uma correlação positiva desde o momento em que se tornou exportador. Ou seja, hoje em dia, o dólar sofre influência não só devido a um aumento na taxa de referência do FED, mas também devido a um fenômeno relacionado às commodities. O petróleo bruto se tornou mais um fator contribuinte líquido para o fortalecimento da moeda americana. O gráfico abaixo ajuda a ver isso, essa mudança na correlação.
Época de resultados nos EUA: o que vimos até aqui?
Já estamos na terceira semana de intensa atividade em relação aos resultados publicados por empresas do S&P e até aqui podemos dizer que os resultados estão de forma mediana. Tanto o número de empresas que reportaram resultados surpreendentes positivamente quanto a magnitude dessas surpresas estão próximos das médias dos últimos 10 anos. Até aqui o S&P 500 está atualmente apresentando uma queda nos lucros em relação ao ano anterior pelo quarto trimestre consecutivo.
No geral, segundo os dados, 17% das empresas no S&P 500 já divulgaram resultados reais para o terceiro trimestre de 2023. Dessas empresas, 73% apresentaram lucros por ação acima das estimativas, o que fica aquém da média de 77% dos últimos 5 anos e ligeiramente abaixo da média de 74% dos últimos 10 anos. Em conjunto, as empresas estão relatando lucros que superam as estimativas dos analistas em 6,6%, o que está abaixo da média de 8,5% dos últimos 5 anos, mas igual à média de 6,6% dos últimos 10 anos.

E essa semana que se inicia temos uma agenda cheia de resultados:

Estatística ou sazonalidade positiva?
Após um mês de setembro marcado por uma forte correção nos mercados, estamos testemunhando um mês de outubro que está também desafiador – até sexta-feira queda de 1,5% no mês. Setembro é conhecido historicamente por ser um mês desafiador para os mercados, enquanto o quarto trimestre tende a ter, historicamente, um desempenho positivo – vide gráfico abaixo. No entanto, após um ano de incerteza e com os mercados ainda aguardando uma recessão que parece nunca chegar, resta a questão se o S&P seguirá ou não essa tendência histórica este ano.
O retorno do 60/40?
Após o que foi o ano mais desafiador em quase 10 anos para a famosa estratégia de 60/40 (60% da alocação em renda variável e 40% da alocação em renda fixa), parece que em 2023 estamos retornando ao território positivo. Por enquanto, o único contribuinte tem sido o mercado de ações. Devido a ajustes consecutivos para cima nas expectativas de taxas de juros e vários aumentos na taxa de juros do FED, juntamente com a percepção de que essas taxas permanecerão mais elevadas por um período prolongado, a marcação a mercado dos títulos de renda fixa tem sido prejudicada.
Com isso, estamos caminhando para algo que nunca havia sido registrado desde que temos dados: três anos consecutivos de desempenho negativo em renda fixa.
A verdade é que a ideia de que o desempenho da renda fixa tende a proteger em anos mais desafiadores no mercado de ações sofre mais em cenários nos quais os níveis de inflação mais elevados acabam pressionando as taxas de juros para cima, impactando negativamente a marcação a mercado dos títulos de renda fixa. Inflação alta e aumentos nas taxas de juros tendem a ter um efeito negativo tanto nas ações quanto na renda fixa.
No entanto, em um ano no qual, apesar da inflação e taxas de juros elevadas, a economia surpreendeu pela sua resiliência e vivenciamos mudanças estruturais associadas à inteligência artificial (oferecendo oportunidades de crescimento secular no setor de tecnologia), a parte de renda variável da carteira acabou impulsionando o desempenho da estratégia 60/40.
O que sabemos é que, ao investir em renda fixa a partir de um ponto de partida de taxas elevadas, o retorno médio histórico desses títulos tende a ser mais elevado, uma vez que a tendência futura acaba sendo a redução das taxas de juros – o gráfico abaixo ajuda a mostrar isso.
Pelo caminho, continuamos com taxas historicamente altas, das quais os investidores podem se beneficiar, obtendo retornos anuais garantidos por meio de seus cupons. E este nível de retorno não era visto há muito tempo. Tanto que o valor relativo da curva de juros em relação à bolsa também se encontra em níveis muito atrativos.
Até o momento, estamos enfrentando o terceiro ano de retornos negativos na renda fixa, devido à marcação a mercado.
Fecharemos 2023 no verde? Será que a renda fixa ainda terá tempo para reverter as perdas do ano e evitar um ano historicamente negativo? Será que, após três anos desafiadores, veremos um 2024 no qual a renda fixa contribuirá positivamente para a estratégia clássica?
Todas essas perguntas encontram respostas na política do FED, na gestão da inflação e no desenvolvimento de um cenário macroeconômico global caracterizado pela extrema incerteza.
O que sabemos é que a alocação estrutural de longo prazo continua sendo fundamental, que a diversificação por meio do dólar é necessária e que as oportunidades proporcionadas pelas taxas de juros mais elevadas no mercado de renda fixa estão aqui para ficar, pelo menos por mais alguns meses.
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*William Castro Alves é Estrategista-chefe da Avenue Securities
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