Se imagens refletem realidades, o dia 18 de outubro de 2023 entrará para a história como o dia em que se observou uma mudança profunda nas relações internacionais.
De um lado, o presidente norte-americano, Joe Biden, idoso, cansado, chegando em Israel, tentando fazer com que o seu principal parceiro na região lhe atendesse, a contragosto deste, para que não pesasse tanto a mão contra os palestinos em Gaza, em razão dos interesses dos Estados Unidos com outros países árabes e da pressão da opinião pública internacional, inicialmente solidária a Israel e, passados 12 dias do conflito, muito menos.
Além disso, Biden foi esnobado com o cancelamento da reunião que teria em Amã, na Jordânia, com os presidentes do Egito e Autoridade Palestina que entenderam que sua visita pouco valor adicionava à resolução da situação.
Do outro lado, atuante e contente, em Beijing, cercado de chefes de estado e governo, o presidente Xi Jinping, celebrando os 10 anos da Iniciativa Nova Rota da Seda (“Belt and Road Initiative – BRI), um acordo de cooperação que se estende do continente eurasiático à África e à América Latina, com mais de 150 países e de 30 organizações internacionais.
Além de estar comemorando o sucesso e os inúmeros acordos de cooperação, em bilhões de dólares, principalmente em infraestrutura e info-estrutura, a China cresceu, nos três primeiros trimestres deste ano, 5.2%, mantendo a sua posição de carro-chefe do desenvolvimento e comércio global.
Dois mundos completamente a parte: enquanto em Beijing se discute como promover projetos de desenvolvimento econômico e o papel de projetos que estão mudando a feição econômica de vários países em desenvolvimento, em Washington, DC, o tema era como impedir que o conflito – para o qual os países europeus e Estados Unidos contribuíram substancialmente – se tornasse maior. E, ao mesmo tempo que isso acontece, Washington vê seus planos de saída do Oriente Médio diluir-se. Afinal, o Hamas e Binyamin Netanyahu conseguiram o que Washington mais temia: ter de, novamente, engajar-se no Oriente Médio.
E a conversa com Washington não é desenvolvimento: é o fornecimento de mais armas para os países da região, o medo do aumento do preço do petróleo e a instabilidade que o conflito gera e gerará. Além disso, Biden se vê forçado a apoiar Netanyahu, que sempre foi claro em sua predileção por Donald Trump. Mas até Trump, aliado de primeira hora do primeiro-ministro israelense, tem sido crítico a Netanyahu.
O mundo está num processo de transição irreversível. O Presidente Xi Jinping anunciou, durante o evento, oito medidas que pretende implementar nos próximos anos. Beijing, generosa com o talão de cheques, pretende investir bastante na melhoria da infraestrutura e info-estrutura de seus parceiros.
O Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportação-Importação da China financiarão cerca de US$ 100 bilhões em projetos de infraestrutura, além de US$ 15 bilhões injetados no Fundo da Rota da Seda e mais US$ 97.2 bilhões para conclusão dos acordos existentes. Os chineses compreenderam que a maior parte dos seus aliados precisa enriquecer para poder dar-lhes apoio mais efetivo internacionalmente.
António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidos, afirmou que a relevância da Nova Rota da Seda é inegável e necessária diante dos enormes desafios que o mundo enfrenta atualmente. A mensagem ficou clara: a China vende infraestrutura e info-estrutura, o Ocidente vende armas. Enfim, dois mundos à parte. Em qual mundo o Brasil se encaixará?
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante da China Foreign Affairs University e senior fellow da Policy Center for the New South
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