
À medida que os anos avançam, o ser humano tende a esperar um ocaso existencial mais tranquilo e calmo. Afinal, a luta de toda uma vida deve ser coroada por um período de paz e calmaria. Os chamados anos dourados constituem um momento importante para transmissão de valores às novas gerações e contemplação do legado construído.
A perspectiva do fim da jornada deve ser repleta de satisfação por aquilo que se construiu e reflexão para se construir algo ainda dentro das condições existentes. O fato é que estes anos dourados são importantes para as sociedades, particularmente quando se pode oferecer aos idosos uma condição diferenciada de vida.
No entanto, no Brasil, temos observado um incremento na depressão na terceira idade. As preocupações com as contas, desemprego e violência, aliados à falta de espaços públicos para descompressão, têm transformado os anos dourados em cinzentos. O Brasil tem logrado construir uma sociedade que vive esquizofrênica do momento em que se nasce até o último suspiro. Isto não é saudável.
É inclusive contraditório com a belíssima natureza que o território brasileiro brinda a todos os que nele vivem – um dos mais belos do mundo – onde seus habitantes são obrigados a viver encarcerados em suas casas – muitas vezes depauperadas pelo custo dos condomínios caros, condições financeiras precárias e custo dos alimentos fora da realidade – e a enfrentarem com tristeza, solidão e infelicidade o ocaso da vida.
O Brasil ainda não é um estado falido, porque existe uma autoridade governamental que poderia – se quisesse e tomasse a decisão de construir um país decente – controlar o território e prover os serviços essenciais que os seus habitantes necessitam ter.
Obviamente que não se espera que o Estado provenha tudo – o que também é prejudicial, afinal, transformaria a todos em espectadores de esmolas – mas que ofereça um mínimo de condições para que os mais idosos vivam, com satisfação e alegria, a fase final de suas vidas. Portanto, é fundamental que se resolvam desafios que causam instabilidade no País e afetem a efetividade de sua governança.
Embora corrupção política pareça ser algo que o brasileiro não leve em consideração substancialmente, os escândalos envolvendo os mais altos escalões da vida pública e empresarial contribuem na percepção de que o País jamais alcançará o tão sonhado futuro brilhante. Os desafios econômicos – inflação, desemprego e a contínua desigualdade de renda – leva o País constantemente a quadros de recessão e desordem fiscal, com um enorme custo geracional. Os bancos também se transformaram em carrascos da vida dos brasileiros.
As taxas elevadas de crimes violentos – homicídio e roubo – constituem um impedimento a que os cidadãos desfrutem de uma qualidade de vida decente. Afinal, no Brasil, os bandidos determinam a roupa, joias, carro, telefone e a forma como vivemos. E os governos, além dos juízes e advogados – ao invés de adotarem uma postura mais dura a respeito – tornaram o País num lugar paraíso onde, infelizmente, o crime realmente compensa.
Milhões de brasileiros – jovens, adultos e idosos – são condenados a viver a base de remédios para sobreviverem o caos de uma sociedade que tem tudo para ser espetacular, mas que, infelizmente, na mão de aventureiros, tem-no transformado num país deprimido, sofrido e triste. E para piorar, ainda querem liberar as drogas. Caminho a passos largos para ser um estado falido.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante da China Foreign Affairs University e senior fellow da Policy Center for the New South
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