
Neste 1º de Outubro, a República Popular da China comemorará o seu 74º aniversário. Dos idos de 1949, pode-se afirmar que o que ocorreu no país asiático foi um milagre construído com o intenso suor e esforço do povo chinês em sete décadas. A China caminha rápido para recuperar sua posição histórica de maior potência econômica mundial, impressionando por seus múltiplos, vasta população, história milenar e a consciência coletiva.
Nos últimos tempos, o processo de ascensão chinesa tem causado desconforto, particularmente a alguns países do Ocidente que reconhecem que perderão a primazia global e até mesmo a hegemonia. Por esta razão, aliados à enorme falta de conhecimento do gigante asiático e daquilo que vem ocorrendo na China há décadas, utilizam-se de teorias conspiratórias, Fake News e desinformação para obstruir a trajetória de um país que tem buscado resiliência e rejuvenescimento, mesmo num cenário que lhe é hostil muitas vezes.
Nos últimos 74 anos, a China logrou, com muito esforço e competência, alcançar aquilo que era inesperado: um país em desenvolvimento transformar-se na maior potência econômica global. Em termos de paridade do poder de compra (PPP), a China já ultrapassou os Estados Unidos há alguns anos.
A ascensão chinesa é transformadora. Em primeiro lugar, por tratar-se de um país de mais de 1.3 bilhão de pessoas, que tem crescido substancialmente nos últimos trinta anos, com um poder de consumo em crescimento. Em segundo, porque, pela primeira vez na História Contemporânea, o principal país do sistema global será um em desenvolvimento e do Oriente, e não do Ocidente, com raízes civilizacionais distintas. Tampouco a China se ocidentalizará em razão de sua longa história, cultura e tradição.
A China é um estado-civilização, o que é refletido em seu culto aos valores ancestrais, relacionamentos sociais e o mérito do Confucionismo. A função do governo chinês é a preservação dessa civilização, que vive num país extremamente diversificado, pluralístico e descentralizado, apesar de a identidade Han, que constitui a maior parte da população, ser o cimento que mantém o país unificado. Impera no país, como seu valor político mais importante a unidade para a manutenção da civilização chinesa.
A China sempre acreditou no mercado e no Estado. No século XVIII, Adam Smith reconheceu que “o mercado chinês é maior, mais desenvolvido e sofisticado do que qualquer mercado na Europa.” Enquanto na China se construíam grandes obras de infraestrutura, como a Muralha e o Grande Canal, na Europa se construíam castelos para a proteção no contínuo processo de guerras infindáveis. Enquanto, em 500 anos, a China teve uma guerra com o Vietnam e perdeu, no mesmo período o Reino Unido e França tiveram 142 guerras.
Nas últimas décadas, observamos um país que logrou tornar-se uma potência global e retomar, através de um processo de rejuvenescimento gradual e coletivo, a sua posição histórica de maior potência econômica global. Obviamente, o país enfrenta enormes desafios. A questão do desemprego e da segurança alimentar de uma enorme população num vasto território sempre preocupam. A China tenta, ao máximo possível, minimizar erros para atingir uma renda per capita de US$ 20 a 25 mil em 2049, ano do centenário do país.
O efeito disruptivo será imenso e o aumento do consumo chinês impactará todos os cantos do globo. Nisto reside uma enorme oportunidade para o Brasil, se for um parceiro de primeira hora da China. O país que era outrora de campesinos se transformou numa superpotência. A Napoleão Bonaparte se atribui a frase: “Deixe a China dormir. Porque quando ela acordar, o mundo vai tremer”. Napoleão estava correto.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante da China Foreign Affairs University e senior fellow da Policy Center for the New South
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