Em meados de 1455, quando a prensa de Gutenberg surgiu e possibilitou a impressão em massa de livros, setores da sociedade entenderam que aquele amontoado de folhas se tornaria poderoso. As histórias no mundo ocidental deixariam de ser orais, e tudo seria registrado e distribuído para pessoas além do clero e da nobreza. Uma nova oportunidade de educação surgia, assim como a disseminação de ideias e uma batalha por narrativas.
Dessa forma, o livro ganhou um significado social ambíguo. De um lado, aquele que eleva intelectualmente; do outro, uma arma poderosa capaz de influenciar e desviar a sociedade do “rumo correto”. Ora sendo louvado, ora sendo embebido em líquido inflamável e queimado em praça pública. A imagem de livros sendo incendiados marca a história do mundo em diferentes períodos: a Inquisição, a Alemanha nazista e a não tão distante Ditadura Militar do Brasil.
O que pode parecer antiquado voltou à tona ao longo da semana passada, no México, quando a oposição do atual presidente Andrés Manuel López Obrador decidiu atear fogo em centenas de materiais didáticos distribuídos pelo Governo. O protesto aconteceu no município de San Cristóbal de las Casas, no estado de Chiapas.
De acordo com a agência de notícias France-Presse, os livros didáticos foram considerados imorais pelos opositores. Para eles, o conteúdo dissemina o comunismo e a homossexualidade entre jovens estudantes, além de conter diversos erros pedagógicos. Pelo menos 8 dos Estados mexicanos afirmaram que não vão distribuir os referidos materiais.
Para López Obrador, “Destruir livros é algo muito retrógrado. É medieval, é da inquisição”, e reflete o pensamento conservador de seus críticos.