Uma nação é constituída de várias características: uma língua, um passado e uma história comum, tudo construído ao longo do tempo. Estes elementos forjam uma nacionalidade, um sentido de diferenciação em relação aos outros povos, uma especificidade que torna único o cidadão daquele país. Neste processo, vão-se criando várias associações à nacionalidade, que, quase que automaticamente, se tornam peculiaridades de um povo. Exemplos abundam neste sentido: quando se pensa em tango, automaticamente pensamos na Argentina, por exemplo. Existem também festas populares que associamos a determinados países: Oktoberfest, na Alemanha, Tomatina, na Espanha, dentre outros.
Em países grandes como o Brasil, é possível que ocorra também o desenvolvimento de tradições regionais, que levem em consideração a peculiaridade de determinadas regiões. A preservação destas tradições constitui um importante aspecto da herança cultural a ser mantida, construída em cima da história de um povo, seus valores e costumes. A função fundamental destas tradições é contribuir, de modo efetivo, na consolidação de um tecido social nacional que torne os indivíduos que compõem aquela nação diferentes de outros povos.
Neste sentido, as escolas também exercem um papel fundamental para criar oportunidades de conexões com as raízes culturais de uma nação, celebrando-se, inclusive, a diversidade existente. Muitos se hão de recordar – ao menos os mais antigos – sobre a importância que era dada à celebração dessas tradições que caracterizavam aquilo que constituía ser brasileiro, além dos tradicionais símbolos nacionais, como a bandeira. Realizavam-se trabalhos sobre o folclore brasileiro, suas peculiaridades e aquilo que foi construído a partir das crenças comuns de uma nacionalidade.
Uma das características comuns – particularmente no caso dos festivais culturais – é a junção de coisas que são características típicas da ocasião, como, por exemplo, música, dança, arte e gastronomia. Ao participar deste enredo cultural, o cidadão, de alguma forma, reconecta-se às suas raízes culturais, aprende e celebra a diversidade histórica de sua nação. Existe, ademais, a questão do artesanato, dos artefactos e dos costumes. É importante ressaltar a necessidade da existência de instituições que atuem como repositórios dessas heranças culturais.
Na China, a função das tradicionais celebrações é construir um amálgama importantíssimo da nacionalidade chinesa. A maior parte dos feriados está profundamente enraizada nas tradições chinesas, com um significado cultural e histórico que oferece à população a oportunidade de confraternização, de honrar ao legado histórico e de transmitir costumes e valores às futuras gerações. Estas celebrações são tão importantes para a constituição do tecido social chinês, que, até mesmo no caso da diáspora chinesa no exterior, ocorrem enormes celebrações como elemento de conexão à nacionalidade.
O Ano Novo Chinês, que é o Festival da Primavera, por exemplo, permite às famílias se reunirem para relembrarem a sua origem comum e a construção de uma perspectiva positiva sobre o futuro. Um dos feriados que me chamou muito a atenção foi o Festival Qingming, no início de abril, quando o povo chinês, para honrar seus ancestrais, visita os túmulos, limpa as lápides, faz oferendas de comida e queima incenso, numa oportunidade única de celebrar o legado dos ancestrais e desfrutar de atividades ao ar livre.
No caso brasileiro, um importante traço cultural nosso ocorre em todos os meses de junho, com as tradicionais Festas Juninas. Por ter nascido nesse mês, estas Festas sempre fizeram parte do meu calendário de vida. A Festa Junina é um dos marcos culturais do Brasil, com suas músicas típicas, comidas, danças e a alegria inerente à época.
Os portugueses, ao trazerem esta festividade para o Brasil, jamais imaginaram que os brasileiros dariam um novo colorido e realizariam adaptações, criariam particularidades e ainda fariam da Festa Junina um importante marco do início do inverno no País.
As festas juninas ocorrem no solstício de inverno no hemisfério sul. Inicialmente oriunda do Nordeste, as Festas Juninas se tornaram um elemento de identificação nacional, que une o Brasil de Norte a Sul. Elementos religiosos também se fazem presentes: São João, São Pedro, São Paulo. No entanto, a celebração num país que é tão diverso como o Brasil, deu oportunidade para que outros elementos fossem introduzidos, tornando-as particularmente peculiares, inclusive com uma indumentária diferenciada e danças características.
Sempre apreciei as Festas Juninas, que, em muitos casos, também fazem parte do calendário religioso de muitas instituições. Infelizmente, a distância e o fato de estar no Exterior não me permitirá estar presente numa Festa Junina este ano. Anualmente, tenho ido à tradicional Festa Junina realizada na Catedral Anglicana de São Paulo, no Alto da Boa Vista, na cidade de São Paulo, que neste ano será realizada no próximo dia 8 de junho. A razão desta minha preferência pessoal se deve ao fato de que os fundos levantados na Festa são destinados ao magnífico trabalho social realizado em Paraisópolis, uma das áreas mais miseráveis de São Paulo. Por meio deste serviço social, milhares de crianças, na mais tenra idade, têm a oportunidade de comer e serem educados. Lastimo não poder ir neste ano, porque tenho a certeza de que será um sucesso.
Reconectar-se à história da sua nacionalidade é uma das coisas mais interessantes para um indivíduo. É uma pena que a mídia social e a rapidez dos tempos nos tenham feito desvalorizar este importante elemento da vida que é conectar-se aos bons costumes e tradições do Brasil.
Embora muitos estejam descrentes quanto ao futuro do Brasil, sempre cabe relembrar a frase de Juscelino Kubistchek sobre o futuro do País: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã o do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.” O Brasil é grande. Acredite em seu grande destino. Boas Festas Juninas!
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante na China Foreign Affairs University e Senior Fellow da Policy Center for the New South