A Guerra na Ucrânia logo se aproxima dos seus 18 meses de duração. O conflito, resultante das disputas territoriais e políticas entre Rússia e Ucrânia, desde 2014, com a anexação russa da Crimeia, até o início das hostilidades em fevereiro de 2022, tem sido sangrento, gerado instabilidades e se transformou numa guerra muito maior do que uma mera disputa territorial. O conflito representa, ainda, a restauração de uma nova Guerra Fria.
A Rússia violou a Carta das Nações Unidas ao invadir o território ucraniano. Obviamente que o precedente norte-americano no Iraque criou uma situação complicada para a comunidade internacional, particularmente quando se quer estabelecer uma ordem global coerente, que não seja baseada em dois pesos e duas medidas. O processo de expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em áreas de suposta influência soviética também contribuiu para a eclosão do conflito. Porém, não sejamos ingênuos de achar que este processo de expansão se devia somente à ação expansionista da OTAN. Os ex-países soviéticos, que pleitearam entrada na OTAN – e em alguns casos lograram – faziam-no porque entendiam – e muitos ainda entendem – que Moscou pouco tem oferecido – ou a oferecer – em matéria de desenvolvimento econômico, social e democrático. Este déficit russo é, sem dúvida, o maior incentivo a que estes países não queiram – em absoluto – seguir vassalos de Moscou. Exemplo disso é que as regiões tomadas pela Rússia na Geórgia, em 2008, e Ucrânia, 2014, por meio de ações militares, não se transformaram em polos de desenvolvimento econômico e social, nem constituem exemplos positivos quanto aos benefícios oferecidos pela intervenção russa.
A questão das armas nucleares tem vindo frequentemente à tona, mas, de alguma forma, tem sido contida. O uso de armas nucleares pela Rússia, por exemplo, retiraria a continuidade do apoio sutil oferecido pela China. A ação russa tampouco tem sido tão efetiva quanto se esperaria daquele que era considerado o segundo melhor exército do mundo. É importante ressaltar, no entanto, que grandes exércitos nem sempre vencem guerras. Os Estados Unidos perderam guerras no Vietnã e Coreia do Norte, por exemplo.
Volodymir Zelensky tem sido habilidoso na construção de uma opinião global positiva a respeito da Ucrânia e sua posição de país invadido. Tem sido ativo, nos principais fóruns internacionais, para fazer ouvir a voz do povo ucraniano. E o Ocidente tem financiado e cedido equipamentos e armamentos para manter a resistência ucraniana. No entanto, com o aumento da disponibilidade de novos armamentos – enfatize-se bilhões de dólares em armamento ocidental avançado – espera-se que a Ucrânia assuma uma postura mais agressiva na guerra. Zelensky tem prometido uma contraofensiva – uma bala de prata – nesta primavera ou verão, na qual afirma que afirma que obterá vitórias importantes no campo de batalha. O sucesso ou fracasso desta contraofensiva influenciará o futuro apoio diplomático e militar ocidental à Ucrânia. Zelensky sabe que o sucesso desta contraofensiva é essencial para o futuro de sua atuação na guerra e no atendimento às suas demandas para uma negociação de paz. Se tiver êxito, o apoio da OTAN deverá aumentar. Se não, a OTAN reavaliará o seu nível de engajamento, sob pena de ser afetada a efetividade de sua atuação. Eis o dilema de Zelensky.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante na China Foreign Affairs University e Senior Fellow da Policy Center for the New South