
Muito se tem discutido no Brasil e no mundo sobre a questão das notícias falsas (“fake news”), inclusive com uma judicialização sem precedentes da questão. Trata-se de uma discussão inútil, uma luta perdida, com a qual se gastará muita energia, recursos e desgaste político sem alcançar, efetivamente, um resultado concreto.
Há muito tempo já se aprende que lutas ou batalhas que se travam com inimigos com iniciais minúsculas são praticamente perdidas. Guerra às drogas, ao contrabando, ao terrorismo são exemplos frustrantes dessas iniciativas, em razão da multiplicidade de atores que podem surgir e inviabilizar o combate, até mesmo porque o aparato estatal não permite tal possibilidade. Há alguns anos, a revista britânica The Economist publicou que o governo do Reino Unido monitorava cerca de 30,000 suspeitos de atividades terroristas, mas efetivamente somente acompanhava 40 indivíduos, porque o aparato estatal para acompanhar cada indivíduo necessitava de 4 funcionários públicos. A opinião pública tampouco estaria disposta a ter mais de 100 mil funcionários acompanhando, exclusivamente, a possibilidade de radicalização de um indivíduo.
Se com terrorismo, que age basicamente de duas maneiras – o lobo solitário (atuação individual) ou em rede (como no caso da Al Qaeda, dentro outros), o Estado britânico não tem plena capacidade de monitoramento, imaginemos a questão de verificação das supostas “fake news” e o tamanho do aparato estatal que seria necessário para apurar a veracidade de cada notícia ou situação veiculada no vasto e infindável universo da Internet. Corremos um sério risco de censura prévia das publicações ou – pior ainda – a questão da legitimidade daqueles que promovem a verificação da veracidade e sua agenda política.
Na sociedade atual, adotou-se o conceito de filtro pelo usuário e não necessariamente pelas plataformas que conduzem a informação. Estas – muitas vezes com tendências políticas claramente identificadas – não podem, nem devem impedir a veiculação de informação. Cabe ao usuário decidir se consome ou acredita na informação.
O Estado atuar mais ativamente no combate às fake news representará uma intromissão enorme de um Estado despreparado – diante de tamanho empreendimento – na vida do indivíduo, uma verdadeira tutelagem sobre aquilo que o cidadão pode ou não ler, ouvir ou discutir. O debate deveria, no entanto, estar centrado na melhoria da capacidade educacional da população, por meio de um sistema educacional competitivo.
Fake news sempre existiram na história. Quando revisitamos o passado, muito daquilo que nos foi ensinado era incorreto, simplesmente falso. Se questionarmos a maior parte dos cidadãos brasileiros a respeito das cores da bandeira, muitos repetirão que o verde se refere às matas e o amarelo ao ouro do Brasil, e jamais às cores das famílias imperiais Bragança (verde) e Habsburgo (amarelo), resultando do casamento de Dom Pedro I com a Imperatriz Leopoldina. Fake News? Sim.
Ao invés de perdermos tempo com uma discussão tão inútil e sem resultados efetivos, que tal falarmos sobre como colocarmos 2 ou 3 universidades brasileiras entre as 20 melhores do mundo? Que tal falarmos sobre coisas sérias e verdadeiramente impactantes para o Brasil? Somente a educação fará com que escolhamos melhores líderes políticos e não percamos tempo discutindo se vacinas são boas ou se a terra é plana. Vamos gastar a bala de prata em coisas que funcionam.