Neste sábado, 6 de maio, o mundo inteiro, em algum momento, terá a oportunidade de assistir à coroação do Rei Charles III como Chefe de Estado do Reino Unido e mais quatorze países – Austrália, Antigua e Barbuda, Bahamas, Belize, Canada, Granada, Jamaica, Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Neves, Santa Lucia, São Vicente e Granadinas, Nova Zelândia, Ilhas Salomão e Tuvalu. Charles III liderará, ainda, a Commonwealth, uma associação de 56 países independentes, com mais de 2.5 bilhões de pessoas.
Desde 1953, quando sua mãe foi coroada, o mundo não assiste a uma cerimônia de tal pompa e magnitude. A coroação, realizada na Abadia de Westminster há 900 anos, será um serviço religioso anglicano, conduzido pelo Arcebispo de Cantuária, Justin Welby. Diante de nossos olhos, veremos uma cerimônia medieval, com elegância, carruagens, uniformes e muitos protocolos. Charles III será declarado Rei pelo Arcebispo e haverá um juramento de lealdade ao novo soberano, que será estendido a todos os súditos de Sua Majestade Britânica ao redor do mundo.
O momento mais importante de todos, no entanto, será a unção de Charles III, com óleo consagrado, advindo do Santo Sepulcro em Jerusalém, como Rei. A cerimônia milenar, de alto teor religioso, é uma constante lembrança àquele que assume a posição de soberano que, além de sua responsabilidade temporal perante os governados, sua responsabilidade máxima e última é perante o Criador, o justo juiz, a quem deverá prestar contas de seu reinado. Este momento da unção é considerado sagrado e deverá ocorrer distante das câmeras de televisão.
Welby também colocará na cabeça de Charles III, que a usará uma única vez, a coroa de Santo Eduardo, de ouro maciço, confeccionada em 1661, de quase 2.3 quilos. Haverá, ainda, leituras religiosas e, principalmente, o juramento que Charles III fará como soberano e Defensor da Fé. Na ocasião, ele receberá o orbe e o cetro, símbolos do seu novo papel como soberano. Sua esposa, Camila – o grande amor da vida de Charles – será ungida e coroada na mesma cerimônia.
Muitos, sem conhecer os benefícios da monarquia, sempre afirmam uma cantilena de adjetivos contrários ao regime: antiquado, anacrônico, absurdo, irracional e um desperdício de recursos. Esses argumentos jamais levam em consideração a enorme instabilidade existente em regimes republicanos e os enormes custos que tal situação gera no desenvolvimento econômico e social de um país. Os países vivem polarizados sem a figura de uma pessoa – acima do debate político – que logre unificar a sociedade. Ocasionalmente, observa-se uma quantidade crescente de países em que presidentes buscam perpetuar-se no poder, esquecendo, o elemento democrático fundamental que é a mudança e transição no poder.
O fato é que monarquias – por sua resiliência – garantem maior estabilidade sistêmica. Afinal, a uma família se lhe confia a manutenção das tradições e o do cimento que solidifica a vida de uma sociedade. Durante a Coroação de Charles III, observem algumas coisas importantes: a monarquia democrática une o povo, apresenta menores índices de corrupção, é mais barata que a república e se cria uma estabilidade institucional no país. Os britânicos darão ao mundo, uma vez mais, um show enorme sobre um regime que funciona. Ainda dá para trocarmos o caos republicano pela estabilidade monárquica que Dom Pedro II assegurou ao Brasil? Vale a reflexão.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor Visitante, China Foreign Affairs University