Enfim, após um adiamento, a viagem do Presidente Lula à China começou. Será a terceira vez que Lula se dirige à China numa visita oficial. Espera-se que desta visita surjam oportunidades interessantes que ofereçam ao Brasil a oportunidade de consolidar sua parceria com a China e expandir, ainda mais, o seu comércio internacional. Lula encontrará uma China muito diferente daquela que viu no passado. O país modernizou-se, cresceu economicamente, e tem buscado consolidar-se como potência global, apesar da resistência crescente advinda de norte-americanos e europeus.
Lula também encontrará no presidente Xi Jinping um líder que tem a perspectiva clara do papel que pretende que a China desempenhe globalmente. Ao assegurar um terceiro mandato à frente da liderança do país, Xi tem adotado uma postura pragmática quanto aos objetivos que pretende alcançar, a China que pretende consolidar e o mundo que deseja influenciar.
Não é para menos que o orgulho chinês esteja em alta. Ao longo das últimas quase cinco décadas, os chineses alteraram profundamente o desenho econômico e social de seu país, retirando 800 milhões de pessoas da linha de pobreza, convertendo a China na maior economia global em paridade do poder de compra e a parceira econômica indispensável de mais de 140 países e territórios. O comércio exterior chinês responde por 13.5% das transações globais e constitui um ator essencial para a movimentação da economia global. A China, em uma década, aumentou sua participação na economia mundial de 11.3% para 18.5%, dobrando a renda per capita da população, ao implementar uma estratégia consistente de modernização do Estado e da sociedade chinesa. Neste processo, a China tem construído um dos maiores sistemas de educação, seguridade social e de saúde do mundo.
Na relação bilateral Brasil-China, a situação é muito positiva. O Brasil constitui o principal destino de exportação da China, é fonte fundamental de importação e destino mais relevante de investimentos na América Latina. A cooperação econômica bilateral cresceu apesar do impacto da Covid-19 no mundo. O comércio bilateral ultrapassou US$ 100 bilhões em 2020 e atingiu um recorde histórico de US$ 171.49 bilhões em 2022. Esta cooperação pode ir mais longe, se o Brasil parar de tratar a China como mero cliente e sim como um parceiro estratégico essencial, criando, entre ambos, um relacionamento especial. Talvez fosse o marco histórico desta viagem de Lula à China se ocorresse a adesão do Brasil à Nova Rota da Seda, com projetos fundamentais de infraestrutura que o País tanto precisa.
Não se trata, portanto, de uma mera visita de cortesia ou política, mas algo estratégico para o Brasil. O presidente da república brasileira deveria levar em sua pasta uma quantidade enorme de projetos de infraestrutura que o Brasil tanto precisa, mas que não saem do papel há anos e somente retardam o processo de desenvolvimento brasileiro. A China é o parceiro ideal, com capacidade e interesse em ampliar investimentos no Brasil, que é o país com quem possui sinergias que podem tornar-se ainda mais exponenciais. Os resultados poderiam ser muito positivos. Resta esperar.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor visitante na China Foreign Affairs University