
Nunca tantas mudanças ocorreram em tão curto período. A humanidade, ao longo das últimas três décadas, tem experimentado um cenário de mudanças profundas na ordem internacional. A tecnologia, sem dúvida, tem tido um papel fundamental neste processo. As comunicações aceleraram o processo de interação global, tornando o mundo muito menor. Com isto se facilitou o comércio como nunca. As cadeias globais se integraram e a logística se aperfeiçoou de tal modo que produtos cruzam oceanos em questão de semanas e chegam aos mais variados cantos do planeta. Pela primeira vez, de modo efetivo, pode-se buscar, na aldeia global, produtos que são mais competitivos em preço e qualidade. A tecnologia tem permitido, cada vez mais, um salto qualitativo para os países em desenvolvimento convergirem com os mais desenvolvidos.
Na arena política, em que se deveria também ter notado um aperfeiçoamento, o avanço foi menor. A mídia social tem sido o instrumento de maior uso da política na era das novas tecnologias. A mídia social, que representa um grande avanço no relacionamento humano em séculos, tem sido transformada num bloco polarizado de indivíduos, ideias, ideologias e perspectivas, muitas vezes equivocadas ou criadas de má fé, como se observa na quantidade de teorias conspiratórias e desinformação que prepondera em determinados sítios da Internet. A mídia social, ao mesmo tempo que permitiu a exposição das feridas sociais que precisam ser tratadas e resolvidas como sociedade, tem criado, ao mesmo tempo, um espaço de intolerância sem precedentes. O pior da humanidade tem-se manifestado, contrariamente às expectativas do século XXI. A classe política, que poderia utilizar a mídia social para a construção de um legado positivo para futuras gerações, perde-se nas filigranas dos embates políticos de baixo impacto na efetiva resolução econômica para o alcance do bem-estar social.
No cenário global, não há dúvida de que o mundo também se encontra em mudança profunda. A recente visita entres os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin evidenciou a proximidade única entre os dois países, que, juntos, reafirmam a necessidade da ação a fim de refrearem a histórica hegemonia e preponderância dos Estados Unidos na governança global. A mensagem do encontro em Moscou era clara: vivemos novos tempos.
Os ventos da mudança, enfim, vêm soprando fortes como nunca. Com isto, mudanças tectônicas deverão ocorrer e muito dos parâmetros atuais serão alterados ou eliminados. Mudanças se caracterizam por períodos de instabilidade e preocupação. Erros podem acontecer na tentativa de manter-se o status quo. É uma jornada turbulenta até que as coisas voltem a consolidar-se num novo normal.
Os chineses afirmam que os países devem buscar construir tecnologias ou ideias disruptivas. Ao assenhorear-se de um determinado segmento do conhecimento ou tecnológico, o país pode buscar incrementar seu status global. Assim, é fundamental num mundo em ebulição que cada país encontre os diferenciais que o tornarão únicos e competitivos globalmente. Erico Veríssimo afirmava: Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento. Que saibamos construir moinhos!
*Marcus Vinícius De Freitas é professor Visitante, China Foreign Affairs University