
Recentemente, o atual ocupante do Palácio do Planalto buscou ampliar sua projeção internacional ao oferecer-se ao presidente norte-americano, Joe Biden, para mediar os diálogos de paz na guerra entre Rússia e Ucrânia. A tentativa, muito mais voltada à questão doméstica brasileira, não leva em consideração o enorme peso e responsabilidade que uma negociação daquela que é, sem dúvida, uma das guerras cujas consequências serão globalmente sentidas.
O processo de negociação de paz é uma longa estrada. Afinal, objetivos conflitivos de cada parte tornam difícil a busca pelo consenso. Além disso, existe a questão da narrativa de vitória que precisa ser apresentada à população de cada país. Para Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, sua perspectiva de paz inclui a saída total das tropas russas do território ucraniano. Para Vladimir Putin, da Rússia, o controle de áreas historicamente ligadas à Rússia, além do controle de portos e acesso ao Mar Negro, constituem sua perspectiva de vitória. O que levará cada lado à mesa de negociação, certamente, será a expectativa de ganhos reduzidos com a continuidade da guerra, além da perspectiva do desastre econômico afetando a estabilidade política dos dois líderes. Em que pese o apoio do Ocidente à Ucrânia, também este sofre com as críticas dos países apoiadores que têm sido particularmente atingidos pelos resultados da situação econômica e do incremento inflacionário.
É por essa razão que a paz via solução diplomática ainda parece distante. Pelo que se antevê, infelizmente, mais destruição ainda é necessária para convencer as partes a uma solução negociada, que, dentre outras coisas, preserve a narrativa de cada um dos lados. A destruição mútua historicamente tem sido um elemento importante para convencer os lados de que a solução diplomática é a melhor via, particularmente considerando que a continuidade da guerra buscando um resultado militar positivo será demorado, incerto e de custo elevadíssimo.
A atuação do Ocidente, com a transformação da guerra num confronto maior de hegemonia global, envolvendo Estados Unidos, Rússia e China, dificulta a via diplomática. O resultado militar – apregoado pelos Estados Unidos como a melhor forma de convencer a Rússia à mesa de negociação – tem sido, apesar da resiliência ucraniana, demorado. A cada dia que passa, mais pessoas morrem e o custo da guerra fica cada vez mais elevado, o que gerará enormes dificuldades no processo de recuperação da Ucrânia pós-guerra.
A via diplomática – ainda a ser explorada – deverá aproximar os lados para criar oportunidades de negociação, por meio de contatos cada vez mais diretos entre as partes. Além disso, a via diplomática pressupõe que as partes possam explorar ideias, possibilidades e áreas de sobreposição que lhes permitam construir acordos.
O processo de paz, particularmente num contexto como da Ucrânia e Rússia, requer um enorme nível de maturidade e compromisso com a questão da paz, a fim de assegurar o reestabelecimento de um cenário mais pacífico no agitado continente europeu. Negociar a paz requer um nível elevado de sofisticação diplomática. Infelizmente, o Brasil, que ainda não o tem, deveria aprender. Mas não da maneira preconizada, que pretende mais holofotes do que, efetivamente, resolver a questão da guerra.