
As ações do Bradesco (BBDC4) desabaram na última quarta-feira (9) depois que o banco divulgou seus resultados do terceiro trimestre de 2022. Os papéis preferenciais derreteram 17,38% negociados a R$ 15,35, enquanto os ON (BBDC3) caíram 16,01% a R$ 13,27.
Com a forte desvalorização, o banco perdeu R$ 30,7 bilhões em valor de mercado. “Esta foi uma das piores quedas da história do Bradesco”, afirmou Pedro Queiroz, operador de renda variável da SVN Investimentos, em entrevista à BM&C News. De fato, o banco não via suas ações derreterem dessa forma há 24 anos – a última vez que os papéis caíram neste nível foi em setembro de 1998, quando a crise financeira da Rússia provocou uma desvalorização de 19,5% nas ações PN.
O resultado do terceiro trimestre decepcionou em vários pontos. O lucro líquido caiu 22,8% na base anual, para R$ 5,223 bilhões. Na comparação trimestral houve baixa de 25,8%.
Além disso houve uma queda importante na rentabilidade. “O Bradesco teve uma diminuição relevante do ROE. Esse número está nos 13,5%, o que é considerado baixo”, afirma Queiroz.
A inadimplência aumentou para 3,9% e também preocupa o mercado. “Este é o maior nível em quatro anos”, disse Guilherme Tiglia, analista da Nord Research, à BM&C.
A XP Investimentos destacou em relatório que o banco divulgou uma revisão do seu guidance para 2022, aumentando a expectativa do banco para PDD (Provisão para Devedores Duvidosos).
“Em sua última revisão os executivos do banco apontaram para uma faixa de R$ 25,5-27,5 bi de PDD em 2022 (previamente de R$17-21 bi). Com isso, o novo guidance implica em mais uma alta relevante no volume de provisionamento no 4T22 (de R$ 8.1-10.1bi), pressionando o seu resultado. Adicionalmente, a diretoria mencionou durante a teleconferência de resultados do terceiro trimestre que essa pressão da PDD pode permanecer no 4T22 e 1T23”, afirmam os analistas Renan Miranda e Matheus Guimarães, CFA.
A XP também aponta que uma das principais variáveis que influenciam a Margem Financeira Bruta é a curva de juros. “Diante da alta recente dos juros e expectativa da sua manutenção em níveis elevados no curto prazo, a linha gestão de ativos e passivos (ALM) deve continuar pressionada, também penalizando o resultado banco”, destacam.
E agora?
Para a XP, apesar da forte queda, este ainda não é o momento ideal para comprar a ação. “Diante da perspectiva ainda bastante desafiadora pela frente, impactando os resultados do banco no curto prazo, e da falta de catalizadores positivos relevantes para a ação, mantemos uma visão mais cautelosa para o papel”, afirmam os analistas.
Além disso, a XP também vê a inadimplência mantendo a trajetória de crescimento gradual e afirma que isso pode continuar pressionando os resultados do setor por um período mais longo. “Portanto, mantemos recomendação Neutra para as ações do Bradesco (BBDC4)” diz a corretora.
Guilherme Tiglia, da Nord, diz que o nível de preço atrativo, na casa de 6X o P/L, com yield entre 5% a 6%, mas concorda que há uma sinalização muito negativa com relação a inadimplência. “Isso entra como ponto de ameaça para o resultado do banco”, aponta.
Hoje, após o fechamento do mercado, será a vez do Itaú divulgar seus resultados. “Eles têm uma qualidade de carteira um pouco melhor. Mesmo assim, vamos ficar atentos aos números”, conclui Tiglia.