A Bolsa de valores brasileira teve um 2021 complicado, com muita volatilidade provocada por um cenário político e econômico cheio de incertezas. Se o ano que chega ao fim trouxe tantas preocupações, o que esperar de 2022, que será marcado por eleições presidenciais – evento que historicamente traz muita volatilidade para o mercado de ações?
Para especialistas, 2022 ainda será um ano cheio de desafios e o investidor da Bolsa precisa ter cautela.
Do lado macroeconômico, a desaceleração do crescimento e a tendência de alta dos índices de preços preocupam os analistas da XP Investimentos. Além disso, eles destacam que o país permanece com uma dívida elevada (83% do PIB), que deverá ser um dos grandes debates durante o próximo cenário eleitoral.
Em relação aos impactos das eleições no preço das ações, a XP destaca que não há um padrão claro. “Mas uma característica parece ser comum, a de ser um ano com volatilidade maior que o normal”, diz o relatório assinado por Fernando Ferreira, estrategista-chefe e chefe do Research, Jeanne Li, estrategista de ações, e Rebecca Nossig, analista de estratégia de ações.
A corretora analisou períodos eleitorais a partir de 2002, ano em que as ações brasileiras caíram quase 30% nos seis meses antes das eleições e subiram 27% durante o semestre seguinte.
Já em 2006, houve queda de 5,9% no período anterior ao pleito. Nos seis meses posteriores, no entanto, a Bolsa subiu 26%. Em 2014, em ambas janelas de seis meses, antes e depois das eleições, os retornos foram positivos.
“Na média, o Ibovespa teve rentabilidade negativa de 6,7% no semestre anterior, e registrou valorização de 5,9% após as eleições. No entanto, olhando para outras janelas de tempo, retornos foram positivos 12 meses e 3 meses antes das eleições, e positivas para todas as janelas pós-eleições”, diz o estudo da XP.
Em relação à volatilidade, a tendência é que ela aumente antes do segundo turno e diminua após as eleições, segundo o levantamento.
Bolsa está barata?
Para boa parte do mercado, a Bolsa brasileira pode ser considerada barata, mas também é preciso fazer uma boa seleção dos ativos para não cair em cilada. Segundo a XP, as ações estão com desconto em qualquer métrica: Preço/Lucro, excluindo commodities, em relação à Renda Fixa e no relativo contra outras Bolsas.
“Isso por si só não garante retornos positivos, mas para o investidor com paciência e visão de longo prazo, esses momentos de turbulência tendem a ser os melhores para investir”, pontuam os analistas.
Neste tipo de cenário, a melhor opção é fazer uma boa seleção dos ativos e procurar por negócios resilientes, que sofrem menos com a volatilidade de curto prazo.
Além disso, é preciso tomar cuidado em tentar acertar o “timing” exato do mercado para ganhar com as oscilações dos ativos.
“Existem poucos gestores com esse tipo de skill (habilidade) [de comprar e vender no momento exato para obter lucro]”, afirma Enzo Mori, analista da Mogno Capital, em entrevista à BM&C News.
Por isso, ele recomenda que os investidores evitem esse tipo de estratégia. “Eu recomendo para todo mundo que não tentem acertar o ‘timing’ exato”, afirma. Segundo ele, o ideal é que o investidor encontre margens de segurança mais atrativas para obter lucro no mercado acionário.
“Hoje vemos muitas teses interessantes com retornos próximos de 20% (a.a) em um horizonte de até 5 anos”, disse.
Segundo ele, outra forma de se proteger da forte volatilidade do mercado é não ficar 100% alocado, mantendo uma parte do patrimônio em caixa para aproveitar oportunidades.
Setores e papéis
De acordo com a XP, alguns setores estão sendo negociados abaixo da sua média histórica do múltiplo P/L. São eles: Telecom, Elétricas, Materiais e Energia. “Os outros setores estão negociando em linha ou com um prêmio em relação ao seu histórico, como Saúde e Tecnologia”, afirmam os analistas.
Em live recente com Marco Saravalle, CEO da SaraInvest, o sócio e gestor da GTI, André Gordon, destacou que existem boas oportunidades na Bolsa atualmente. “A possibilidade de retorno implícito em uma carteira de ações bem selecionada é bastante alto. Somos otimistas com essas perspectivas”, afirmou.
Entre as empresas que estão no radar do gestor estão Vale, Petrobras e Gerdau. “Estas companhias estão com uma geração de caixa excepcional e distribuindo muito dividendo”, destacou.
No varejo doméstico, ele destaca os papeis da Guararapes e, dentro do varejo não-discricionário, sua aposta é no Pão de Açúcar. “Tem muito papel interessante, com riscos que consideramos relativamente baixos”, ressaltou.