Como já era esperado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu elevar a Selic em 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano, na reunião encerrada nesta quarta-feira (8).
Com o aumento, a taxa básica de juros atingiu o maior patamar dos últimos quatro anos e meio, fazendo com que muitos investidores se perguntem como ficam as suas aplicações neste cenário.
Em primeiro lugar, é importante lembrar que este aumento da Selic já era aguardado pela grande maioria dos economistas e, portanto, já estava precificado nas principais classes de ativos – tanto de renda fixa quanto de renda variável.
“Essa elevação da Selic já é notícia passada. A alta já estava precificada pelo mercado por conta do aumento da inflação, mesmo que isso impacte negativamente o crescimento econômico. Como temos um histórico bem ruim de inflação no Brasil, o controle de preços precisa vir em primeiro lugar”, afirma Victor Savioli, analista e fundador do Bolsapp.
Renda fixa prefixada
Alan Ghani, economista-chefe da Sarainvest e professor do Insper, afirma que a taxa dos títulos prefixados e dos pós-fixados atrelados à inflação recuaram bastante nos últimos dias.
“O andamento da PEC dos Precatórios fez com que o prêmio de risco na curva de juros diminuísse. Também houve uma ligeira melhora nas perspectivas inflacionárias”, afirmou.
Mesmo com o recuo dos prêmios, Ghani destaca que as taxas dos prefixados continuam elevadas e vale a pena investir nestes títulos. “Até nos títulos públicos do Tesouro Direto, onde há menor risco de crédito, essas taxas estão esticadas”, afirma.
Na tarde desta quarta-feira, os títulos prefixados com vencimento em 2024 pagavam 10,78% ao ano, enquanto o Tesouro Prefixado 2026 oferecia retorno de 10,61% a.a. Já o Tesouro Direto com Juros Semestrais 2031 oferecia retorno de 10,72% ao ano.
Segundo Ghani, o mais interessante é optar por títulos de prazo mais curto neste momento. “Comprar prefixados com vencimento muito longo é complicado agora, pois ainda há muita incerteza em relação ao cenário inflacionário. A não ser o investidor que queira tomar mais risco”, afirma.
Para ele, isso também vale para os títulos atrelados à inflação. “Aqueles com vencimento curto, em 2026, também estão com uma taxa atrativa e são uma opção interessante no momento. A diferença de taxa deste título para outro mais longo, com vencimento em 2030 ou 2035 não está tão grande”, pontua.
De acordo com dados do Tesouro Nacional*, o Tesouro IPCA 2026 paga 4,88% ao ano mais o IPCA, enquanto o título com vencimento em 2035 tem retorno real de 5,10%.
* Os dados são da tarde desta quarta-feira
Títulos pós-fixados
As aplicações pós-fixadas atreladas à Selic e ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) são impactadas imediatamente pelo aumento da taxa de juros.
Portanto, tanto o Tesouro Selic quanto outros títulos de renda fixa, como CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e LCIs (Letra de Crédito Imobiliário) pós-fixados vão passar a remunerar o investidor com uma taxa maior.
Os investidores mais conservadores, que possuem a maior parte do seu capital em ativos com esse tipo de remuneração saem ganhando.
Além disso, a reserva de emergência – que deve sempre ficar alocada em renda fixa pós-fixada – também passará a ter um rendimento mais elevado com essa alta da Selic.
Custo de oportunidade mais alto afeta o Ibovespa?
Mesmo com um custo de oportunidade mais alto, o Ibovespa também vem mostrando sinais de recuperação em dezembro, com vários pregões seguidos em alta.
No entanto, se nos últimos meses houve uma “migração” de investidores da Bolsa para a renda fixa, ainda é cedo para falar que haverá um movimento contrário.
“Já estamos vendo um rali de fim de ano na Bolsa, mas a renda fixa ainda está com taxas bastante atrativas”, diz Ghani.
Para o professor de finanças Alexandre Cabral, a alta da Bolsa nos últimos pregões ainda não pode ser explicada por um aumento da procura dos investidores pessoa física.
“Precisamos entender como está o fluxo de capital. Os estrangeiros estão ‘entrando pesado’, mas não sei como está a entrada de pessoas físicas”, disse, durante o programa BM&C Market.
Os especialistas seguem acreditando que o mercado acionário tem papéis baratos e que existem boas oportunidades, mesmo que o custo de oportunidade esteja mais elevado por conta da alta da Selic.
No entanto, é preciso fazer uma boa seleção dos papéis e estar ciente dos riscos, sempre adequando à exposição em relação ao seu perfil de investidor.
Poupança também muda
Com o aumento da Selic, o rendimento da poupança também muda. Isso porque o retorno da caderneta é condicionado à taxa básica de juros: sempre que a Selic estiver igual ou abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da Selic. Quando a taxa de juros estiver acima de 8,5% ao ano, o retorno da caderneta passa a ser de 0,5% ao mês, mais a TR (Taxa Referencial).
Veja como fica o retorno da caderneta:
Selic | Rendimento da poupança |
Igual ou menor que 8,5% ao ano | 70% da Selic |
Maior do que 8,5% ao ano (situação atual) | 0,5% ao mês, mais a TR |