
A inflação persistente, o lento crescimento da economia brasileira e a situação fiscal deteriorada foram temas de um artigo publicado pelos analistas e gestores da Kinea Investimentos nesta quarta-feira (3).
“Inflação, baixo crescimento estrutural, problemas fiscais, crise energética e questões geopolíticas. Estamos de volta aos anos 70 no Brasil e no mundo?”, questionaram os analistas da gestora.
Eles destacaram que, no Brasil, a inflação e a conjuntura política lembram temas do passado: subida de alimentos, da gasolina, do botijão de gás e aperto do orçamento das famílias.
“O valor da cesta básica já ultrapassa o salário-mínimo, fazendo com que o governo tenha que responder com auxílios aos menos favorecidos, gerando assim mecanismos de transmissão para o cenário político. Com a possibilidade de quebrarmos o teto de gastos no Brasil, estamos abrindo a famosa caixa de Pandora: o artefato mitológico onde todos os males do mundo estavam guardados”, escreveram.
O arcabouço do Teto de Gastos “acabou como conceito” na opinião dos analistas da Kinea e nos próximos meses teremos ideia do tamanho da conta fiscal.
“Mantivemos os monstros do descontrole fiscal trancados em sua caixa de Pandora por alguns poucos anos e agora veremos o dano que eles podem causar à já precária saúde financeira do país”, afirmam.
Na teoria, o Governo e sua base no Congresso decidiram “apenas” mudar a data de correção do indexador e limitar as despesas com os gastos judiciais (conhecidos como Precatórios). Mas o mundo prático é por vezes muito diferente do teórico.
Segundo eles, a abertura dessa “caixa de Pandora” ainda poderá trazer outros desdobramentos nos próximos meses.
“Consideramos que a principal questão será observar a tramitação do novo valor do auxílio para a população, uma vez que pressões naturais da oposição irão surgir para aumento desse valor e da abrangência do público-alvo. Talvez, temendo o efeito no valor das suas emendas, a base do governo fique unida para evitar novos furos no teto”, disseram.
Eles ainda apontaram que, nos Estados Unidos, a situação também lembra o início do processo inflacionário da década de 70. “Continuamos a observar pressões salariais e até mesmo pressões de sindicatos, fazendo com que, dentro de um mercado de trabalho apertado, o Federal Reserve tenha que mostrar maior preocupação com sua política monetária”, afirmaram.