Impulsionado pelas mudanças no mercado financeiro brasileiro, que adotou recentemente soluções como o PIX e o open banking, o número de startups do segmento, conhecidas como fintechs, vem se multiplicando com rapidez – e, por causa do crescimento desse nicho, a quantidade de novas vagas de emprego explodiu.
Segundo levantamento feito pela Gupy, plataforma de vagas que analisou os dados de contratação de 30 fintechs e comparou o primeiro semestre de 2021 com o mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 466% nas vagas. A tecnologia é a área, dentro das fintechs, que gerou mais oportunidades, com 33% do total, seguida do comercial (21%) e de produto e inovação (7%).
De acordo com o Distrito Fintech Report 2021, há hoje no País 1.158 fintechs, divididas nas categorias backoffice, criptomoedas, investimentos, câmbio, crowdfunding, meios de pagamento, cartões, dívidas, crédito, fidelização, risco e compliance, finanças pessoais, serviços digitais e tecnologia.
Apesar de estarem presentes em todas as regiões, a maioria fica no Sudeste, que concentra 72,3% das soluções. O relatório indica ainda que grande parte desse ecossistema foca em soluções para outras empresas (B2B), enquanto 13,6% oferecem soluções também para os consumidores e pouco mais de 25% visam somente esse segundo público.
Até setembro de 2021, as fintechs brasileiras fizeram 124 rodadas de investimento – mesmo número do ano passado inteiro, segundo levantamento da Sling Hubs feito com exclusividade para o Estadão. O volume captado, entretanto, saltou de US$ 1,8 bilhão para US$ 4,9 bilhões – crescimento de 172% – e o número de pessoas empregadas passou de 35 mil em 2020 para 56 mil em 2021 (aumento de 59%).
A lista de empresas que estão atrás de novos profissionais é ampla. O C6 Bank, por exemplo, está com 780 vagas abertas, das quais 280 são para a área de tecnologia. Há oportunidades para desenvolvedores (back-end, front-end e mobile), cientistas de dados, analistas de qualidade de software, service desk e analistas de risco. Também há vagas disponíveis para atuar em outras áreas, como marketing, jurídico, compliance e prevenção a fraudes.
Esse é o maior movimento de contratação desde o lançamento do banco digital, que em dois anos de existência já ultrapassou a marca de 10 milhões de clientes. De janeiro ao fim de setembro deste ano, foram contratados 854 profissionais, além de 108 estagiários, totalizando 1,8 mil funcionários na fintech.
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Empresa de tecnologia em serviços financeiros do grupo Stone.Co, que reúne Pagar.me, Vitta e a Linx, a Stone tem 300 vagas abertas. Outras que estão contratando são Sinqia, RecargaPay, BRITech, Appmax, VADU, Liber Capital, Lendico e Blu.
Já a Adyen, especializada em tecnologias de pagamento, anunciou recentemente vagas ilimitadas para desenvolvedores no Brasil. A empresa afirma que vai deixar o número em aberto e contratar todos os profissionais que conseguir. Os candidatos precisam saber programar em Java, independentemente de formação universitária ou diploma.
Oportunidades exclusivas para mulheres
A Gupy também detectou uma nova movimentação no mercado das fintechs: a contratação de mulheres foi 24,5% maior entre julho e agosto deste ano comparado ao bimestre anterior. Em relação ao ano passado, o boom é imenso: uma alta de 660% na contratação de mulheres em relação ao mesmo bimestre de 2020.
Se, por um lado, o aumento foi geral, tanto para homens como para mulheres, há uma perceptível preocupação em trazer mais igualdade de gênero para o segmento, ainda predominantemente masculino.
É o caso da plataforma de soluções para o ecossistema de educação Pravaler, que está com vagas para diferentes áreas, como marketing, recursos humanos, comercial e engenharia de software, mas abriu uma frente de oportunidades no setor de tecnologia exclusivamente para mulheres.
A fintech Cora, atualmente com 207 colaboradores, é outra que oferece vagas em tecnologia exclusivas para elas e fixou a meta de ter no mínimo 30% de mulheres na empresa em dois anos. Hoje, o número já supera os 25%. São 15 mulheres ocupando cargos dentro do guarda-chuva de tecnologia.
“É a primeira vez que trabalho em uma empresa com esse equilíbrio (de gênero)”, diz a engenheira de dados Vanessa Cadan Scheffer, de 37 anos. Graduada em Ciência da Computação e licenciada em Matemática com mestrado em Tecnologia, ela conta que desde a faculdade teve que batalhar espaços porque a discrepância numérica era imensa. “A sala tinha 80 homens e só quatro mulheres”, relata.
A especialista passou por empresas como Kroton e Natura antes de entrar na Cora. Na fintech, ela trabalha em um time com 50% de homens e 50% de mulheres. “A gente se sente acolhida e isso faz muita diferença”, fala. “Para a empresa é muito mais saudável ter pessoas com pontos de vista e formações diferentes, que se sentem à vontade umas com as outras. Eu vim de empresas mais antigas e hierárquicas e estou achando muito especial essa startup mais horizontal.”
Para mulheres que estejam pensando em mergulhar no universo das fintechs e da tecnologia, Vanessa faz uma recomendação simples: “Não tenham medo. As mulheres tendem a não aplicar para vagas de tecnologia quando não preenchem todos os requisitos, enquanto os homens são mais audaciosos e tentam a sorte”, observa. “Várias vezes a gente começou a entrevistar uma pessoa para uma vaga e viu que ela era perfeita para outra. O mais importante é ter curiosidade e paixão pelo que faz e uma vontade incondicional de aprender porque todos os dias surgem novas ferramentas e soluções.”
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