Os mercados financeiros no Brasil começaram agosto sob renovadas pressões fiscais, e segundo analistas esse aumento de prêmio de risco dá o pontapé inicial de um potencial recrudescimento de temores com as contas públicas até dezembro, quando ganhará corpo a discussão sobre o Orçamento 2022 e a eleição do ano vem ficará menos distante.
Desde o fim da semana passada o sentimento voltou a cambalear com manchetes do lado fiscal. Primeiro, por rumores de que o governo estudaria deixar o Bolsa Família fora do teto de gastos. Na sequência, e de forma relacionada, por alertas sobre um forte aumento no volume de pagamentos de precatórios para 2022, que abocanharia boa parte do espaço fiscal esperado para o ano que vem.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi explícito ao dizer que um pagamento integral dessa conta, que soma em torno de 90 bilhões de reais em 2022, atingiria as despesas do governo como um todo e não só o programa Bolsa Família, razão pela qual a União está trabalhando em proposta para flexibilizar as regras desse pagamento. Guedes reconheceu que o governo pode ter “dormido no ponto”.
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O reflexo desse novo episódio de ruído fiscal ficava claro nos preços do dólar e dos juros. O dólar futuro saltou 5% entre a mínima de quinta passada e a máxima desta terça. Nos juros, o spread entre os DIs janeiro de 2027 e janeiro de 2022 subiu de 252 pontos-base para 287 pontos-base.
Nesta sessão, o real tinha, com folga, o pior desempenho entre as principais moedas globais.
“O mercado segue encontrando dificuldades para acompanhar o bom humor externo, principalmente com a volta do receio com tentativas do governo de furar o teto de gastos voltando aos holofotes neste segundo semestre –a tendência é que isso se mantenha tendo em vista que ano que vem teremos eleições presidenciais”, disse Victor Beyruti, economista da Guide.
Nesta semana, estrategistas do Morgan Stanley alertaram que a cada vez maior desaprovação do governo e a proximidade da eleição de 2022 sugerem potenciais riscos em direção a uma política fiscal menos austera.
“Isso poderia, em último caso, criar renovada pressão de alta para os juros longos, especialmente com o excesso de prêmio a termo se movendo para perto de zero”, disseram em relatório da véspera.
A Rio Bravo vai na mesma linha.