O presidente da gigante de celulose Suzano, Walter Schalka, afirma que é hora de governos e empresas agirem rápido para combater os efeitos do aquecimento global. Por isso, as metas têm de ser imediatas, em vez de alongadas em décadas. “Quando uma empresa promete ser carbono zero em 2050, não vejo como uma coisa relevante. Não dá para ficar postergando, acho muito mais válido dizer que vai reduzir emissões em 30% até 2030.”
Para o executivo, é urgente que se defina um modelo de precificação para a compra de créditos de carbono por empresas poluentes – ele acredita que o tema deve ser prioridade da próxima reunião da COP-26. Schalka diz que o sistema deve incentivar o senso de urgência: “Tem de ser caro (comprar créditos de carbono), para forçar as empresas a investir na descarbonização.”
A diversidade virou tema abordado pelas empresas industriais. Como o sr. vê esse movimento?
Não é questão das empresas industriais, mas da sociedade. Há uma série de grupos – mulheres, negros, LGBTQIA+ e PCDs (pessoas com deficiência) – que merecem ser apoiados e ter oportunidades. Há dois anos, nosso programa de trainee deixou de exigir inglês e não olhamos mais a universidade (onde a pessoa estudou). Não achamos que a formação universitária é suficiente para determinar quem vai ser um líder no futuro, que é o que tentamos identificar. No último ano, conseguimos ter 56% de mulheres e 44% de negros entre os aprovados.
O sr. se envolveu pessoalmente no grupo Unidos pela Vacina. O que isso ensinou?
Há ações conjunturais a ser tomadas e questões estruturais da sociedade. Na questão emergencial da pandemia, não trabalhamos só na vacina, mas construímos cinco hospitais, com a Gerdau, e fizemos mais de 6,5 mil respiradores. Mas, para além dessa conjuntura, o Brasil não pode ter uma sociedade de castas. Os 200 milhões de brasileiros têm de ter oportunidades e responsabilidades iguais. Nossa posição foi muito clara de não privilegiar nossos funcionários em detrimento da sociedade como um todo.
Há um problema de origem.
Há uma combinação muito perversa de corporativismo e patrimonialismo no Brasil. Quantas associações entraram na Justiça dizendo que deveriam tomar vacinas antes dos outros? Há corporações que têm mais subsídios (vantagens), no Legislativo, no Judiciário, no Executivo, em sindicatos. Infelizmente, a “Lei de Gerson” está espalhada e tem gente que fala, com orgulho, que consegue mais do que o outro, quando deveria ter vergonha.
Como a Suzano lida com as comunidades no entorno de suas fábricas e florestas?
A relação vem mudando, mas não está no ponto ideal. Em alguns casos, ainda há paternalismo. A comunidade demanda algo, a empresa atende. Isso cria um círculo vicioso, porque o problema é estrutural. Nos últimos anos, temos tentado – e, em alguns casos, conseguido – criar um programa de renda sustentável, e não ficar subsidiando apenas. Temos um programa de produção de mel, com auxílio para venda e exportação, que funciona em comunidades da Bahia, do Espírito Santo e de Mato Grosso do Sul.
A questão ambiental parece ser um desafio para muitas indústrias. Como a Suzano vê a questão das metas ambientais?
Nosso propósito é renovar a vida com a árvore. No passado, a gente vendia celulose. Agora, tiramos energia dela, vendemos energia. Mas podemos fazer muito mais. Da árvore a gente pode tirar outros produtos. Hoje, a indústria têxtil é um mercado de 106 milhões de toneladas: 20 milhões vêm do algodão, que demanda muita água; 80 milhões são de fibras derivadas do petróleo; e só 6 milhões vêm da árvore – a viscose. Estamos trabalhando em duas alternativas ecológicas para que esses 6 milhões aumentem significativamente. A árvore pode também produzir o bio-óleo, para substituir produtos fósseis. Temos a oportunidade de ter uma cadeia muito mais abrangente de produtos.
O que há em desenvolvimento?
Temos três ecossistemas: com uma equipe própria de desenvolvimento, com a academia e com startups. Investimos numa empresa finlandesa, a Spinnova, que já vale € 600 milhões, para fazer fio de tecido. Hoje, somos carbono negativo: sequestramos 15 milhões de toneladas e emitimos 3,2 milhões.
A nova fábrica, em Mato Grosso do Sul, pode ser um teste para novas tecnologias?
Esse projeto é superinteressante e tem a responsabilidade de reduzir a nossa emissão de carbono em relação à quantidade de celulose produzida. Vai ser o projeto com mais geração de energia em nosso sistema, com 180 MW médios de energia, o que é equivalente a uma hidrelétrica de porte razoável.
E qual é o efeito do ESG no negócio? A agenda traz benefícios?
Tem muito efeito em vários aspectos, o primeiro deles é o custo de capital. A Suzano tem emitido títulos associados a objetivos ambientais. Fizemos uma emissão de dez anos com a menor taxa de juros da nossa história recentemente, com juros de 3,1% ao ano, em dólar.
Segundo pesquisa recente, os executivos brasileiros são menos otimistas do que a média sobre o ESG. Há discurso vazio por aí?
Quando uma empresa promete ser carbono zero em 2050, não vejo como uma coisa relevante. Não dá para ficar postergando, acho muito mais válido dizer que vai reduzir emissões em 30% até 2030. Precisamos de ações imediatas. Outra questão importante é a definição da precificação do carbono, de como isso vai ser comprado e vendido. Tem de ser caro, para forçar as empresas a investir na descarbonização. A COP-26 (conferência do clima em novembro, na Escócia) é a grande oportunidade para essa definição.
Mas o País está na contramão no meio ambiente, como mostram dados de desmatamento.
Temos de demonstrar ao governo que há formas melhores de gerar valor para as comunidades amazônicas do que permitir o desmatamento ilegal. Podemos nos tornar uma potência ambiental. Temos de combater ferozmente ilegalidades. O Brasil tem legislação ambiental muito positiva, e ela deve ser colocada em prática. O setor privado tem de levantar a voz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.